O que é ser um vencedor?
Quantas vezes me pergunto qual seria
mesmo o significado e o sentido de ser um vencedor neste mundo? Porque será tão comum ouvir as pessoas
falarem frases com mensagens
do tipo " Você vai vencer";
" Você é um vencedor". Mas, afinal,
o que é ser um vencedor? Porque, para nós humanos, a vitória
é algo tão importante? Por que será que
a valorizamos tanto?
Sei que cada um tem um exemplo
de superação em sua vida, que pode torná-lo um grande vencedor. Alguns conseguem superar uma grande
perda e são vitoriosos. Outros conseguem
vencer uma doença gravíssima e se sentem vitoriosos. Quantos nascem sem
qualquer perspectiva de superar e sair daquele estado de penúria, com tantas
barreiras e um longo caminho a percorrer, e mesmo assim conseguem sobreviver e chegar a um lugar muito melhor e se considerar um
legítimo vencedor. Outro dia li que uma senhora falou o seguinte ".... só de ter sobrevivido a um tumor
maligno que mata 95% dos que o têm (eu fiquei nos 5% e estou aqui), ter me
tornado uma deficiente e mesmo assim ter conseguido terminar a faculdade, ter
montado o meu consultório (que agora é uma clínica) já me considero
vitoriosa".
Mas, apesar de reconhecer que existem diversos exemplos de superação na vida de cada um. Mas, a vitória que eu gostaria de
me referir é a que faz parte das
grandes ilusões do modelo perverso de
sociedade da qual nós
fazemos parte. Um modelo perverso onde
muitas vezes um jogo de cartas
marcadas o vencedor que nem sempre fez por onde merecer. Existe por trás dessa estrutura social sistematizada, um poder invisível, um
poder malévolo que, por conta de seu espírito dominador, dissemina ilusões entre as pessoas e
alimenta a disputa entre elas, as quais se enfrentam numa disputa desigual pelos espaços disponíveis. Muitos adoecem exatamente por conta desse modelo de vida.
Creio que desde os primórdios sempre foi
assim, onde os guerreiros vencedores eram considerados verdadeiros heróis perante seu
povo. Heróis que, depois de suas
batalhas, ao retornar
para sua terra, eram recebidos
aos aplausos pelo seu povo. Sempre foi assim: aos vencedores tudo: o
reconhecimento, toda a honra e toda a glória. Enquanto que, aos perdedores, restava apenas o dever de
suportar a humilhação ou a morte pelas
mão de seus inimigos. Aos perdedores, restava o castigo de se ver escravizado, sem qualquer direitos humanos. Era a lei do mais
forte e mais astucioso que predominava. Ou será que ainda predomina?
A partir dessa forma de organização e de
estruturação social, com o passar do tempo,
foram sendo construídos um mundo de desconfiança entre as pessoas, a
partir dos valores que ressaltam
muito mais a individualidade, que separam e desagregam para facilitar a
dominação. A partir dessa forma de pensamento,
foram-se definindo os
padrões que hoje fazem parte
das relações humanas e das interações sociais no mundo moderno. Um mundo no
qual é preciso alimentar o interesse por valores que representem uma conquista pessoal, um troféu a ser exibido como um monumento, a fim
de se sentir valorizado e orgulhoso em obter o reconhecimento de um público que o
cubra de elogios.
Assim,
a vitória passou a ser um dos símbolos
sagrados da humanidade, pois que representa um ideal almejado
por todos os membros da sociedade. Não dá para esquecer que a vitória, além do reconhecimento
e do status, também pode proporcionar os benefícios econômicos que
garantem destaque, conforto e vários privilégios a todos aqueles que a
alcançarem. Quanto maiores forem os desafios para se alcançar a vitória, maior será o prestígio e os
privilégios reconhecidos e postos à disposição do seu conquistador.
Evidente que, dentro de cada um de nós, tudo começa a partir de uma satisfação
pessoal, que se insurge pela vontade
de provar para si mesmo a
capacidade de vencer desafios e de
alcançar um lugar de destaque dentro da sociedade da qual fazemos parte.
Porque a vitória em nosso meio
tem tudo a ver com sucesso, com fama e poder econômico. Um
sentimento de vaidade se confunde com a necessidade de provar que somos capazes de vencer. Porque é dessa forma que seremos reconhecidos
pelos demais. Ou, talvez, porque isso alivia a consciência na hora de usufruir das beneficies
postas à disposição de quem consegue a
vitória.
Curiosamente, nesse modelo de sociedade, as pessoas que falam tanto em amor, em compaixão e solidariedade transforma-se
em rivais involuntariamente por necessidade de vencer. Muitos ficam cegos e
surdos, esquecendo que, dentro deste modelo perverso de eterna disputa, se há vencedores de um lado, necessariamente haverá perdedores do outro
No entanto, muitos outros
existem. São os chamados loucos, que não
se iludem com nada, que não querem
disputar nada. Porque não querem ser nada. Apenas, viver, simplesmente viver.
Querem viver e contemplar a beleza da
vida, compartilhando o amor e a paz. Porque
são felizes do seu jeito. E vivem assim, no anonimato, um dia após o
outro, e nem sabem que são eles os
verdadeiros vencedores.
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