Deixem-me Sonhar



Deixem-me adormecer e sonhar um pouco mais

Diante de tantos bombardeios

Pra que eu possa  caminhar em silêncio

E ouvir o canto dos pássaros das campinas.

Quem sabe adormecido,

Em total estado letárgico,

Eu  possa compreender melhor

A  dimensão das consciências mórbidas

Deixem-me sonhar mais um pouco

Pra não morrer  de perplexidade  diante  de tanta violência

Deixem-me acreditar  que a fraternidade  superou as divergências

E que  o homem é  mesmo belo,  como disse o poeta,

E se tornou o amigo mais solidário  entre todas as criaturas.

Deixem-me sonhar um pouco mais,

Apenas um pouco.

Pra que eu possa  olhar  vizinhos nas  calçadas

Pra que eu possa ver  exércitos de  crianças jogando bola

Brincando de corre-corre nas ruas

Sem   temer a  crueldade dos adultos

Preciso  acreditar que as mãos estendidas no caminho

Superam  as  que atiram pedras.

Preciso  sentar numa praça  com cheiro  de pipocas  no ar.

Preciso   assistir de perto  a beleza dos passarinhos

Compartilhando um fruto maduro

Deixem-me adormecer e sonhar   um pouco mais

Pra que eu possa caminhar por veredas sinuosas  sem morrer numa curva

Pra que eu possa respirar  em  matas verdejantes

Tomar banho de rio

Matar a minha  sede

Sem  temer a  poluição.

Enquanto nos  causar  nostalgia o pouco que  nos resta

Enquanto   a paz  depender das  armas

Não me despertem.

Deixem-me continuar sonhando mais um pouco.






Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A grande balança do universo

O que é subvida?

Reencarnação: derradeira abordagem