A burguesia e o Protestantismo

                   “No campo religioso, esse momento de transição conhecerá uma grande e importante cisão no cristianismo ocidental, com o protestantismo, iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517. Na verdade, a burguesia em ascensão, necessitava de uma moral cristã que ao invés de condenar, estimulasse o acúmulo de capital. A Igreja Católica condenava a cobrança de juros, como sendo uma usura, uma pratica pecaminosa. Claro que esta postura estava longe de refletir uma crítica de princípios. Era sim uma crítica de interesses, pois na correlação de forças sociais desse período, Igreja e burguesia estavam em lados antagônicos. A burguesia representava o novo, o capitalismo nascente, enquanto que a Igreja tentava inutilmente se agarrar nas bóias do velho, o feudalismo decadente.
                  O protestantismo difundiu-se muito no norte da Europa, principalmente em sua versão calvinista. Para esta, Deus atribuiu a cada um uma vocação particular, cujo objetivo era a glorificação. Assim, o pagamento de juros, o comércio, os bancos, o artesanato, seriam tão naturais para Deus como o aluguel de uma propriedade ou o salário de um trabalhador. Calvino afirmava: “O trabalhador é o mais que se assemelha a Deus… Um homem que não quer trabalhar não deve comer… O pobre é suspeito de preguiça, o que constitui uma injúria a Deus”.
                Desta maneira, Calvino justificava plenamente o acúmulo de capital burguês. Esta ética mais liberal, adequada ao capitalismo e aos interesses da burguesia expandiu-se principalmente para regiões do norte Europeu, onde o comércio era mais desenvolvido. Não é por acaso que até hoje, no final do século XX, esta região permanece bem mais avançada em relação à Europa mediterrânea, que permaneceu e permanece hegemonicamente católica.
               Analisar a expansão ultramarina sem entender este cenário de profundas transformações, seria impossível, já que não existem fatos isolados na História. Seria como tentar entender a grave crise no mercado de ações no ano de 1998, fora do contexto mais geral da globalização e do neoliberalismo, deste final de século.”
Fonte: HistóriaNet

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