A democracia e a política
Desde os antigos
gregos, o conceito de democracia
vem passando por constantes modificações
semânticas, dependendo da conjuntura e
dos interesses políticos envolvidos. Mas, para aqueles que são leigos, basta compreender a democracia
como um meio de legitimar o exercício do
poder do estado, através da vontade da maioria de seus cidadãos.
Diz a nossa Carta Magna, princípio e
fundamento maior para as demais leis, em
seu artigo 1º, que: “ A República Federativa do
Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito”. E lá no seu Parágrafo
único, estabelece “que todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio
de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Dessa
forma, a nossa constituição nos leva a acreditar que o conceito de democracia
está intrinsecamente relacionado ao pleno exercício da soberania e da vontade do povo.
Contudo, em política partidária, parece que, a
cada dia, esse conceito de democracia se perde no vazio dos interesses
individuais, nos acordos de bastidores, na busca desenfreada pelo poder.
Percebe-se que, pelo poder, os políticos passam por cima da constituição, de
sua história e atropelam a democracia da maneira mais sódida e mais
escandalosa. Hoje, assistimos com
espanto a vaidade, a prepotência e a
ambição pelo poder levando homens, que
antes encabeçavam fileiras e levantavam a voz em defesa da democracia, a
cometerem verdadeiros atentados contra o processo democrático.
Quem conhece a história de luta do Partido dos
Trabalhadores (PT) procura encontrar alguma explicação lógica para o que
aconteceu nesse processo de escolha do seu candidato à Prefeitura da cidade do
Recife. Não que haja nada ilegal. Tá tudo dentro da lei, dirão aqueles que
mandam no partido. É incrível, mas até partidos políticos nesse país também tem
dono (ou donos). Pode até ser legal, eu
admito, mas com certeza, é IMORAL, pois fere o princípio da moralidade, da ética
e da democracia.
O Prefeito
tem um direito natural de concorrer a reeleição, até para que ele possa ser avaliado e julgado pelo trabalho que realizou durante o seu mandato. Assim, deve
ser a vontade do povo, expressa através do voto nas urnas, que dirá se ele foi ou não merecedor de
aprovação.
Mas, e quando o partido não quer mais a
repetição daquela gestão? O que deve ser feito? Deve buscar o diálogo, até se
encontrar um consenso sobre os erros cometidos e que se apresente propostas de
mudanças. Caso contrário, que se apresente outras opções para que seja
escolhida democraticamente. Deve-se respeitar os princípios democráticos
garantindo a todos os mesmos direitos. Para isso existem as prévias onde os
possíveis concorrentes a candidatos oferecem seus nomes para a disputa dos
votos de toda a militância.
- “Ah, mas a votação
foi fraudada e o resultado não reflete a verdadedeira vontade do povo”, dizem
os perdedores insatisfeitos. Tudo bem. Então, vamos apresentar recurso fundamentado e, se for o caso, que se
anule a eleição e se faça outra, com todos os cuidados necessários para que
não se comentam os mesmos erros. Que se tome todas as providências necessárias,
contratem pessoas idóneas para administrar a eleição, sei lá. Mas, que se
respeite o processo democrático e não se ignore o povo, impondo-lhe uma decisão
verticalizada como se o nosso país ainda estivesse vivendo naqueles negros
tempos de ditadura.
Diante de tudo isso, o que mais me dói, e dói tanto lá no fundo do meu coração, é que seja
exatamente o Partido dos Trabalhadores, esse mesmo partido, o PT, que sempre esteve a frente de tantas lutas
pela democracia, pelas “Diretas Já”, pelo “Impeachment de Collor” entre tantas
outras lutas em defesa da soberania popular, e agora macula dessa forma a sua história.
Acho que, se houver alguma
dignidade no Prefeito João da Costa, e acredito que ele seja um homem digno,
daria o caso por encerrado e não impetraria mais nenhum recurso. Vê-se que ele
se tornou uma persona não grata dentro do seu partido e não lhe resta outro
caminho a não ser a busca por um outro partido que o acolha e que lhe dê o
devido valor. Um partido que não jogue o seu nome na sarjeta, como fizeram os
seus correligionários. E...PT, saudações. Edvaldo Cosmo.
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