Um Joaquim predestinado
O Supremo Trbunal Federal não será mais o
mesmo. Há um marco significativo que o divide em duas fases: uma fase antes de
Joaquim Barbosa e outra depois de Joaquim Barbosa. Queria o destino que fosse exatamente
assim: um homem chamado Joaquim. Um homem simples, de origem humilde que, como
se não bastasse, ainda carrega em sua
pele uma cor marcada pelo preconceito racial. Eis a grande diferença dos demais.
Esse novo heroi nacional é um Joaquim
negro. Tinha que ser um Joaquim para marcar o início de um novo período em nossa história. Tem o exemplo de Joaquim Nabuco, um grande abolicionista, por quem tenho um grande respeito e admiração. Tem um outro Joaquim, o Tiradentes,
que também nos deixou um legado de coragem e de perseverança diante dos absurdos
cometidos pelo Poder. Um Joaquim predestinado a romper com uma estrutura
irracional que já perdurava há séculos no nosso país. Parece que esse é mesmo um nome
abençoado. Joaquim, um nome que ainda nos honra por ser o nome do avô de Jesus. Hoje vem trazer um pouco mais
de dignidade a uma classe tão excluída.
Mas, enganam-se aqueles que imaginam que Joaquim Barbosa nos causa orgulho
apenas porque é um negro que chegou à Presidência da mais alta Corte. Enganam-se
aqueles que pensam que ele chegou lá por alguma influência política. Muito pelo
contrário, ele nos causa orgulho principalmente porque ele consegue representar
as diversidades de raças e cores tão
injustiçadas nesse país ao longo de muitos anos. Joaquim Barbosa representa a
dignidade de uma multidão de brasileiros
que foram excluidos por causa
do preconceito. Ele chegou lá porque fez por onde merecer. Porque é um homem dotado de
notável saber jurídico. Só para se ter uma ideia, Joaquim Barbosa, além do seu idioma
português, também fala inglês, francês, alemão e espanhol. É um poliglota.
Mais
uma vez, temos um desses momentos de rara contemplação e beleza que representa uma
verdadeira ruptura entre um passado hostil e tenebroso e um presente repleto de uma marcante e exemplar
ascensão. Temos a ruptura de um passado tão marcado pelo preconceito e um futuro cheio
de esperanças na justiça. Pois, já está mais do que comprovado que a nossa racionalidade precisa de acontecimentos marcantes para
registrar os fatos e os fenômenos que causaram uma transformação nas relações
sociais ao longo da saga da humanidade nesse planeta. E, dentro dessa história
contada em variados livros, destacam-se períodos que
representam, senão um
antagonismo, no mínimo uma ruptura entre dois períodos sociais
distintos. É assim que conhecemos a História e a Pré-História. Assim também temos o período antes de Cristo e depois de
Cristo. Enfim, demarcamos um território que simboliza os limites entre os costumes
e as tradições antigas para compreender melhor a evolução das relações humanas
no mundo moderno, identificando as causas
e os efeitos dos diversos conflitos existenciais dentro do convívio em
sociedade.
Assim é Joaquim Barbosa, um nome que rima com prosa escrita pela sabedoria dos anjos. Um homem que soube conduzir com isenção e coragem o processo do Mensalão contra tantos poderosos. Um nome que
será lembrado para sempre, porque muito além de ficar escrito em nossa memória, Joquim Barbosa
também ficará eternamente gravado em nossos corações. Não só por toda a sua
história mas, principalmente, pelo seu caráter e exemplo de vida e por tudo o
quanto ele representa para todo o povo brasileiro. Deus Seja Louvado. E salve, Joaquim.
A música a seguir faz parte de uma época muito
difícil no Brasil, onde o preconceito contra os negros era bastante ostensivo e gritante. Elis Regina
gravou essa música que coloca o negro
como personagem principal de sua paixão, o que representou um avanço e um ato
de coragem pela valorização e o respeito
dessa raça.
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