Um Joaquim predestinado


             Quantas vezes foram empossados novos Ministros no Supremo Tribunal Federal sem que isso se tornasse  um acontecimento tão glamoroso? Quantos Ministros assumiram o cargo de Presidente daquela Corte sem que isso conseguisse atrair os olhares arregalados do mundo inteiro?  Normalmente esses eventos  representam apenas uma cansativa solenidade a mais dentro do contexto tradicional  da nossa conturbada Adiminstração Pública. Um rotineiro acontecimento sem qualquer expectativa de transformação ou de mudança  nos horizontes de sua forma de indicação política e muito menos nas desilusões do povo. Mas, dessa vez tudo parece ser diferente. Porque pela primeira vez na história do nosso país, um cidadão de pele negra consegue ocupar um cargo de tamanha relevância no país. Não bastasse um operário e uma mulher chegarem à Presidência da República pela primeira vez, agora temos  também a satisfação de ver um cidadão  negro, um negro de origem humilde  chegar à Presidência do Supremo Tribunal Federal. Um homem chamado Joaquim Barbosa.
              O Supremo Trbunal Federal não será mais o mesmo. Há um marco significativo que o divide em duas fases: uma fase antes de Joaquim Barbosa e outra depois de Joaquim Barbosa. Queria o destino que fosse exatamente assim: um homem chamado Joaquim. Um homem simples, de origem humilde que, como se não bastasse, ainda carrega  em sua pele uma cor marcada pelo preconceito racial. Eis a grande diferença dos demais. Esse novo heroi nacional  é um Joaquim negro. Tinha que ser um Joaquim para marcar o início de  um novo período em nossa  história. Tem o exemplo de Joaquim Nabuco, um grande abolicionista, por quem tenho um grande respeito e admiração. Tem um outro Joaquim, o Tiradentes, que também nos deixou um legado de coragem e de perseverança diante dos absurdos cometidos pelo Poder. Um Joaquim predestinado a romper com uma estrutura irracional que já perdurava há séculos no nosso país. Parece que esse é mesmo um  nome abençoado. Joaquim, um nome que ainda nos honra por ser o nome do avô de Jesus. Hoje vem  trazer um pouco mais de dignidade a uma classe tão excluída.
            Mas, enganam-se  aqueles que  imaginam que Joaquim Barbosa nos causa orgulho apenas porque é um negro que chegou à Presidência da mais alta Corte. Enganam-se aqueles que pensam que ele chegou lá por alguma influência política. Muito pelo contrário, ele nos causa orgulho principalmente porque ele consegue representar as diversidades de raças e cores  tão injustiçadas nesse país ao longo de muitos anos. Joaquim Barbosa representa a dignidade de uma multidão de brasileiros  que foram excluidos  por causa do preconceito.  Ele  chegou lá porque  fez por onde merecer. Porque é um homem dotado de notável saber jurídico. Só para se ter uma ideia, Joaquim Barbosa, além do seu idioma português, também fala inglês, francês, alemão e espanhol. É um poliglota.
              Mais uma vez, temos um desses momentos de rara  contemplação e beleza que representa uma verdadeira ruptura entre um passado hostil e tenebroso e um  presente repleto de uma marcante e exemplar ascensão. Temos a ruptura de um passado  tão marcado pelo preconceito e um futuro cheio de esperanças na justiça. Pois, já está mais do que  comprovado que a nossa racionalidade  precisa de acontecimentos marcantes para registrar os fatos e os fenômenos que causaram uma transformação nas relações sociais ao longo da saga da humanidade nesse planeta. E, dentro dessa história contada em variados  livros,  destacam-se períodos  que  representam,  senão um antagonismo, no mínimo uma ruptura entre dois períodos  sociais  distintos.  É assim que conhecemos a  História e a Pré-História. Assim também  temos o período antes de Cristo e depois de Cristo. Enfim, demarcamos um território que simboliza os limites entre os costumes e as tradições antigas para compreender melhor a evolução das relações humanas no mundo  moderno, identificando as causas e os efeitos dos diversos conflitos existenciais dentro do convívio em sociedade.
            Assim é Joaquim Barbosa, um nome que rima com prosa  escrita pela sabedoria dos anjos. Um homem que soube conduzir com isenção e coragem o processo do Mensalão contra tantos poderosos. Um nome que será lembrado para sempre,  porque  muito além de ficar  escrito em nossa memória, Joquim Barbosa também ficará eternamente gravado em nossos corações. Não só por toda a sua história mas, principalmente, pelo seu caráter e exemplo de vida e  por tudo o quanto ele representa para todo o povo brasileiro. Deus Seja Louvado. E salve, Joaquim.
              A  música a seguir faz parte de uma época muito difícil no Brasil, onde o preconceito contra os negros  era bastante ostensivo e gritante. Elis Regina gravou essa música que  coloca o negro como personagem principal de sua paixão, o que representou um avanço e um ato de coragem pela  valorização e o respeito dessa raça.
 
 
 
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A grande balança do universo

O que é subvida?