Pelo Projeto Criança Esperança
Há algum tempo
atrás, recebi um e-mail de uma pessoa desconhecida,
criticando a campanha “Criança Esperança”. No texto, a pessoa fazia muitas
críticas ao referido projeto e se
posicionava absolutamente contra os pedidos de doações. O remetente defendia a tese de que todos
devemos nos abster de fazer qualquer tipo de doação ao programa, uma vez que já
pagamos, compulsoriamente, diversos
tipos de tributos ao governo, exatamente
para que esses tributos sejam aplicados em investimentos necessários para cuidar
de nossas crianças e adolescentes.
Em princípio,
confesso que fiquei um pouco confuso, porque realmente o governo deveria
investir melhor em nossas crianças. Mas, não consigui entender porque uma
pessoa precisa divulgar tamanho absurdo.
Como se pode defender condutas que caminham no sentido contrário da
solidariedade? Então, tão logo acabei de
ler o referido texto, deletei tudo, por considerá-lo uma equivocada e infeliz
mensagem, fruto, certamente, de uma mente egoísta, que em nada contribui para a
melhoria da nossa sociedade.
Apesar de acreditar
que ainda estamos longe de sermos partícipes de uma verdadeira sociedade (uma sociedade
implica em repartir os lucros produzidos pelo trabalho de cada um, de maneira justa e equânime), esperei a divulgação para
conhecer o valor da quantia arrecadada com a campanha do último ano de dois mil
e onze (2011). Conforme a divulgação da última
parcial, o total dos valores doados pelo público ficou em torno dos R$ 21.000.000,00 (vinte e
um milhões de reais). E olha que essa foi considerada uma arrecadação recorde.
Parece muito dinheiro, mas, só parece. Ainda há muitas necessidades e muito trabalho a ser realizado nesta área e
esse dinheiro não é suficiente.
Há muito tempo
que criança e adolescente , na prática, não são prioridades em nosso país. Apenas, para ilustrar
o que eu digo, basta verificar o volume
de verbas que foram destinadas para a
construção ou reforma dos estádios de
futebol, que serão utilizados para o
evento da Copa do Mundo de 2014. Em média, cada um dos estádios gastará uma quantia equivalente a quinhentos mil reais. Isto sem considerar as obras de
infraestrutura. Agora, imaginem quantos anos de campanha do projeto “Criança Esperança” serão
necessários para que, repetindo o mesmo
recorde da arrecadação mencionada, seja atingido o total de gasto na construção de apenas um desses
estádios de futebol.
Quem conheceu uma antiga livraria, denominada
“O Livro 7”, situada logo ali, na Boa
Vista, em Recife, certamente deve lembrar de uma frase do grande filósofo
Pitágoras, que podia ser vista e lida de
dentro do salão principal, cujo
texto dizia o seguinte: “Educai as crianças de hoje e não será necessário punir os
adultos de amanhã”. Pois é, esta frase
foi dita e repetida tantas vezes. Contudo, vários governos passaram pelo Poder e o
problema foi sendo relegado, até chegarmos ao ponto que chegamos. Certamente, devia haver interesses mais
importantes do que educar e cuidar de
crianças. Por isso, pouco se investiu na educação e no futuro dos nossos jovens.
Fala-se muito,
mas a verdade é que nossas crianças não foram e continuam não sendo uma
prioridade para os governos. Aliás, as
pessoas, de uma maneira geral, não são prioridades para os governos, pois,
gasta-se milhões e milhões na construção de prédios suntuosos, mas faltam
verbas para se investir na qualidade de vida dos seres humanos, principalmente,
aqueles mais carentes. O abandono e a fome cresceram tanto, que o governo criou o Bolsa Família para aliviar um
pouquinho, tanto sofrimento. Afinal, para
quem está se afogando mesmo, qualquer coisa serve como táboa de salvação. Mas, isso,
também, ainda é muito pouco e não resolve o problema.
Reclamam do
crescimento cada vez maior da violência e da frequente participação de menores
na criminalidade em nosso pais. Criticam e consideram o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA
) uma lei protetiva demais. Dizem
até que depois de sua entrada em vigor, houve um crescimento da
participação de menores na execução de diversos atos infracionais. Muitos defendem,
inclusive, a redução da menoridade, como uma solução para o problema. Perdoem-me
aqueles que comungam com essa opinião, mas discordo. Infelizmente, foi preciso que a situação chegasse a esse ponto, para que
todos percebamos o quanto educamos mal as nossas crianças. Uma criança, enquanto pessoa em
desenvolvimento, precisa de um grande trabalho de base educcional para que seja
preparada para conviver em sociedade. É preciso que cada um assuma suas
responsabilidades e não fique “empurrando
o problema com a barriga”. Precisamos de um projeto educacional arrojado, bem elaborado, com objetivos claros, que valorize os nosos jovens. Precisamos rever e reformular o nosso sistema educacional, pricipalmente na rede pública de ensino. Por exemplo, criar a Carteira do Trabalho Estudantil Profissionalizante, que seria vinculada a uma escola-empresa, financiada em parceria com os empresários e o estado, de modo que o estudante recebesse um valor para se dedicar a uma profissão e aos estudos em troca de uma remuneração básica, com descontos para a Previdência Social, dando a eles mais responsabilidades e mais esperança no futuro. Trata-se de um projeto viável. Basta vontade política para desenvolvê-lo e pô-lo em prática.
Para mim, dentre todos os fracassos dos seres
humanos, o pior deles é ter que reconhecer e carregar a falha no dever de bem educar uma criança.
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