O que é a Morte?
Desde que o mundo é mundo que a morte se tornou o grande mistério e o maior desafio para a vida neste planeta. Talvez porque tenhamos medo do desconhecido ou das coisas que não conseguimos controlar ou impedir que elas aconteçam. Há tempos vivemos uma angústia sempre que esse fenômeno inevitável ceifa a vida de pessoas ou animais que tanto amamos. Devo reconhecer que a morte é mesmo o mistério mais assustador e ao mesmo tempo mais enigmático que existe entre nós. Um verdadeiro desafio para a limitada compreensão de todos os seres humanos.
Algumas teorias religiosas, oriundas do passado, ainda hoje estão sendo difundidas, mais com o objetivo de consolar do que mesmo explicar os verdadeiros motivos que justificam a existência da morte. No caso dos animais considerados irracionais, temos que a morte se dá pelo controle da sua proliferação a partir de uma cadeia alimentar e pelo próprio fundamento da vida neste mundo. Sabemos que o homem, apesar de se considerar uma raça superior, é limitado demais para compreender a dimensão da morte e até mesmo como funciona a sua própria natureza. Porque, conduzido pela vaidade e pelo egoismo, o homem procura transparecer uma sabedoria assoberbada, baseada apenas em inspirações intuitivas, mas que procura impor às pessoas através do argumento da fé uma maneira de compreensão da morte, mesmo que não seja apresentada qualquer evidência. A maioria das religiões, por exemplo, prega que durante o nascimento o corpo é vitalizado por uma alma ou por um espírito, mas com a morte física essa alma ou esse espírito se liberta, separando-se do corpo e elevando-se a um estado superior. Neste caso, a alma ou espírito se tornaria uma entidade eterna.
Como já havia dito em outras oportunidades, não estou aqui para convencer ninguém sobre as coisas que penso, muito menos que acreditem em mim. Apenas e tão somente sinto um profundo desejo de revelar a visão que tenho da morte e dizer que a vejo apenas como um fenômeno natural que faz parte da existência de todos os seres vivos deste mundo tão conturbado, inclusive, dos seres humanos. Ao meu ver, a morte não é castigo, passagem ou punição, ela é, na realidade, uma maneira forjada pela própria natureza, na sua auto condução de impor limites aos instintos perversos e animalescos contidos na mente humana, instintos estes transmitidos geneticamente de geração em geração. Assim, dentro de uma dialética da própria condição de existência e de estar vivo, diante dos perigos que esses instintos representam, a morte se torna uma reação natural contra a nossa própria incapacidade de compreender a dimensão do amor e de nos comportar de acordo com essa compreensão.
Porque o homem, em seu estado animalesco, não busca o conhecimento para fazer o bem, pura e simplesmente. Ele busca o conhecimento principalmente para conquistar mais poder. Porque o homem em seus instintos de animal não se conforma em ser controlado, ele quer controlar, ele quer dominar, nem que seja os seus próprios semelhantes, além, é claro, de todas as demais criaturas mais indefesas como os animais, a vegetação e as riquezas minerais existentes no planeta. E é exatamente essa natureza ameaçadora que encontra na morte um eficaz mecanismo de defesa natural contra si mesmo. Imaginem vocês se o homem fosse eterno diante de sua condição beligerante e devastadora neste mundo. Imaginem como estaria a nossa sociedade hoje?
Creio que a alma seja mesmo eterna, mas ela não é absoluta. Porque só o verdadeiro Deus é absoluto. Seja qual for a natureza da alma, haverá sempre uma dialética de ação e reação a depender de sua índole, não importa de qual plano ela faça parte. Porque só haverá a verdadeira vida para aquelas almas que forem agregadas pela força da atração a um plano que lhe servirá como morada juntamente com seus pares afins. Sabemos que há muitas moradas, mas se a alma não for atraída por uma delas, o que significa ser aceita, ela será condenada a viver vagando no vazio em si mesma, de maneira que não conseguirá ser feliz sozinha. E no caso das almas perdidas, somente o Pai poderá conceder-lhes guarida e uma nova oportunidade para se reconciliar. Mas não necessariamente neste mundo, porque não somos o centro do universo.
Porque o reino de Deus é um reino de liberdade e de consciência mútua e sentir prazer em fazer a vontade do Pai, para que de cada um e das suas relações possa emanar apenas coisas boas e sem máculas. Não se trata de um reino como este onde uns buscam manter a exploração e o controle sobre a vida dos outros, mas um reino onde impera a verdadeira consciência da força da coletividade agregadora para construir e se renovar.
Assim, deste ponto de vista, acredito até que haja alguma possibilidade de a vida, tal qual a concebemos aqui, tornar-se eterna. Mas, isso é quase impossível, por conta da índole humana que se desenvolveu numa sociedade separatista e desagregadora, desvinculada dos verdadeiros propósitos de sua natureza, que deve ser fazer a vontade do Criador e não a nossa.
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