O deus que Nietsche matou, também mato



                      E clamo junto com o filósofo ao Deus desconhecido, deus que sumiu, deus que se perdeu na história, deus que foi abocanhado pelos templos suntuosos, pelo poder do clero, pelo controle da religião. O deus que Nietsche matou é o deus dos profetas de araque, enganadores ávidos por status, deus das conquistas, deus das cruzadas, deus das perseguições, deus das intolerâncias, deus do dedo em riste, da cara de mau, das culpas, dos medos. O deus contra o qual Nietsche ergueu sua voz é aquele que está pronto a condenar, briga com o diabo de igual pra igual, quer um representante seu no senado, ama riqueza, poder e 'prosperidade'. É o deus da barganha, que troca favores por um percentual do salário de seus servos, que se deleita com o sangue que escorre de joelhos pagadores de promessas.
O deus que Nietsche matou, mato eu, e piso em cima. 
                Faço de Nietsche meu irmão, meu companheiro de jornada, de busca, de sede, de indignação, de inconformismo. Sigo de braços dados com Nietsche pelo caminho estreito, e curvo-me à beira desse caminho a esse outro deus, desconhecido, meu semelhante, que segue mais vivo do que nunca.
Oração ao Deus desconhecido
                     Antes de prosseguir em meu caminho e lançar o meu olhar para a frente, uma vez mais elevo, só, minhas mãos a Ti de quem eu fujo. A Ti das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar. Sobre esses altares estão gravadas em fogo palavras: "Ao Deus desconhecido". Teu, sou eu, embora até o presente tenho me associado aos sacrilégios. Teu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo. Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servir-Te. Eu quero Te conhecer, desconhecido. Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida. Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero te conhecer, quero servir só a Ti.  (   Friedrich Nietsche)

 In:  http://www.julianofabricio.com

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