---- O Casamento Deve Ser Indissolúvel?



                  O  termo casamento se origina do vocábulo "casa", onde os pares se unem  para viver e conviver sobre um mesmo teto. Essa forma de comportamento social começou a partir de crenças religiosas, onde não  se admitia nem se reconhecia a união entre pessoas que não estivesse dentro das tradições defendidas pela igreja. Quando as normas são religiosas, a sociedade tende a acatá-las e a cumprir seus rituais, sem muitos questionamentos. Até porque ninguém tem interesse  de entrar em conflito com uma igreja tão  poderosa que se diz representante de Deus no planeta.
            Mas, entendo que a sociedade é dinâmica e, apesar de toda  as pressões oriundas das igrejas, algumas  tradições relacionadas ao casamento mudaram. E mudaram para melhor. Apesar de reconhecer  as peculiaridades relacionadas o sentimento  que conduz ao casamento, este não pode ser uma condenação, uma forma de aprisionamento da alma. O casamento é um contrato sui generis realizado entre duas pessoas, por sua livre e espontânea vontade, onde o estado é quem  deve estabelecer as possibilidades e os pressupostos para sua validade ou sua  anulação.
                Há algum tempo atrás, não muito distante, diga-se de passagem, o casamento era sempre resultante de um acordo prévio entre as famílias. Os pais eram quem   normalmente escolhiam e decidiam com quem seus filhos casariam e, evidentemente, essa postura não era condenada pela sociedade da época e  ainda era considerada uma prática normal pelas religiões,  mesmo sendo um casamento contra a vontade dos nubentes. Porque, na verdade, tudo girava em torno de interesses patrimoniais, onde  o objetivo maior  da igreja era, como aliás ainda é, a procriação. Por isso, muitos casamentos eram instituições apenas de fachadas, de aparências, onde a mulher vivia completamente  na dependência econômica do marido. Nesse caso, a separação não lhe  traria qualquer vantagem, por isso era interessante que fosse mesmo indissolúvel.
               Hoje, no entanto, a mulher conquistou seu espaço no mercado de trabalho e  já não depende tanto assim dos seus maridos. As pessoas  devem ser livres para decidirem sobre quando, onde  e com quem devam se casar. São as pessoas, dentro dos limites estabelecidos em lei,  que devem escolher e decidir, de maneira consciente, como, quando e onde se casarem ou mesmo se separarem. Podem decidir, inclusive, se querem ou não morar sobre o mesmo teto, ter ou não ter filhos, pois sobre todas essas coisas  lhes  foi dado o poder e o direito de escolher. Porque a ninguém foi dado o direito de invadir um espaço que  a própria natureza reservou a cada um de nós,  a quem cabe decidir em particular sobre o própio destino.
              Uma religião pode  apenas estabelecer uma doutrina baseada em crenças sobrenaturais para os que livremente aceitem seguí-la. Nesse viés, as lideranças religiosas podem estabelecer regras com  deveres e comportamentos exclusivamente para seus seguidores, os quais devem  respeitar os compromissos assumidos e acatar os  seus dogmas. Não pode estabelecer regras erga omnes.  Seguir ou não,  regras estabelecidas por uma religião deve ser fruto da vontade interior de cada um. Portanto, se alguém discorda dos termos estabelecidos por sua religião,  deve deixá-la, caso entenda que  eles entram  em conflito com os anseios contidos em sua alma.
              Portanto,  há de se separar religião e estado. Cada um deve respeitar os seus limites, de maneira a não querer se impor e adentrar na seara  reservada ao outro. Por isso, defendo que o casamento não pode ser  indissolúvel, nem do ponto de vista do estado nem do ponto de vista de nenhuma  religião.  Não se justifica  a permanência de uma união contra a vontade. Assim como deve existir a liberdade para se unir, as pessoas devem ter  também a plena  liberdade para cortar os laços que os impedem de cada um seguir seu rumo e tentar uma nova relação, impondo-se  a ambos, no entanto,  as responsabilidades perante terceiros prejudicados.


-----  Quando um Casamento Deve Ser Desfeito?
           
               É difícil estabelecer um momento exato. Porque  muitas vezes o  casamento se acaba e o casal não se apercebe disso.  Como qualquer  instituição falida, mesmo tendo sido constituído através da livre e espontânea vontade entre as partes,  o casamento pode apresentar desgaste ao longo do tempo. Pode revelar-se coisas  ocultas  que se fossem conhecidas  no início,  talvez,  não tivesse acontecido.   Acredito que é bastante difícil manter um casamento onde não existe mais amor, respeito pelo outro, diálogo, tolerância, quando houve a falta de humor entre o casal.
            Mas, há sinais que revelam a sua falência.  Quando um casal deixar de cuidar do outro, de compartilhar momentos em torno de coisas simples. Quando deixar de dar gargalhadas  juntos e viver reclamando de tudo, mal-humorado, são os sinais  mais evidentes de que as coisas estão chegando a um ponto crítico e a separação se torna uma possibilidade a ser pensada. Uma possibilidade  libertadora que pode renovar a condição de ambos  poderem ser  livres e novamente  tentarem outra forma de serem felizes.
              Não se pode manter dois corpos junto quando suas almas estejam separadas por absoluta incompatibilidade. Casamento não pode ser uma condenação, um vínculo ad perpetuam, que obriga duas pessoas a viverem juntas, mesmo sem amor, tendo consciência de que jamais serão felizes vivendo lado a lado.  Nada justifica o sacrifício  apenas por um capricho de manter uma relação de aparências, quando, lá no fundo, sabe-se que ambos estão infelizes e que aquela união, fruto de  um grande erro, pode causar danos maiores, inclusive, aos próprios filhos.


        





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