Reflexões sobre o nosso modelo social


         Assim como Rousseau, eu também sou um apaixonado pelo estado de natureza onde, segundo ele, o homem vivia livre e não se preocupava com a vida dos outros. O homem em seu estado de natureza  era voltado para si mesmo e buscava, apenas, a  satisfação dos seus  próprios desejos. Não havia um conceito comportamental para definir e julgar o homem em seu estado de natureza, classificando-o como do bem ou como do mal, pois as leis morais não existiam. Somente as leis naturais orientavam a conduta do homem que viva no estado de natureza.
          Segundo Rousseau, houve uma saída do homem do seu estado natural, onde ele era livre, independente e feliz, para um estado social de desigualdades e de guerras constantes, entre todos contra todos. Após um longo período de desenvolvimento, o homem passou para um estado civil policiado, de inveja e corrupção, aliás, tal qual vemos hoje.
          Mas, não há como negar: o homem é um  ser social. Nasceu para viver em sociedade e, por isso mesmo, não há como pensar numa  sobrevivência, por muito tempo, isolado. É exatamente através da companhia e da convivência com os nossos semelhantes que encontramos o nosso equilíbrio e  conhecemos a nós mesmos. A presença do outro  é que nos leva a comensurar nosso próprio eu. Na dialética da convivência, aprendemos a respeitar os limites estabelecidos, na busca de  um bom relacionamento com a pessoa do outro. É nesse pensar, que devemos sempre oferecer ao outro aquilo que gostaríamos de receber.
           Desde épocas remotas, lançado esse olhar de contemplação sobre a pessoa do semelhante, fomos conduzidos, inevitavelmente, às seguintes reflexões, bastante elementares,  sobre quem somos, quem nos colocou neste lugar e o que estamos fazendo aqui.
          Ao nos perceber dotados de inteligência, seria natural que  buscássemos nos aprofundar na compreensão de nossa realidade, através do processo racional. Assim, procuramos  encontrar um sentido na razão para a nossa existência, até para instruir melhor a nossa fé. Mas, como compreender e explicar as complexas atividades cerebrais? Como compreender essa dinâmica que parece nos obedecer, mas ao mesmo tempo essa dependência que comanda os nossos movimentos e ações em fração de segundos?  É toda a complexidade cerebral que nos leva a perceber que existe um comando que nos dá consciência e nos proporciona essa existência, capaz de nos permitir um vislumbrar contemplativo do mundo em que vivemos. Inegável admitir que existem tantas possibilidades,  tantos caminhos e tantas formas diferentes de prazer nessa dimensão sensível, que nos perdemos e nos afatamos da nossa verdadeira vocação. Encantados com tanta beleza, nos envolvemos  numa teia sedutora, constituída pelos desejos materiais, pela ambição, pela vaidade e pela sensação de poder. É através dessa estranha sensação que nos faz sentir  criaturas superiores e imortais, dotados de uma inteligência divinamente magnífica que, muitas vezes, chegamos ao sacrilégio de nos sentirmos o próprio Deus, ou que seríamos capaz até  de substituí-lo.
           Diante disso, seria impossível não se chegar às seguintes indagações:  se não  foi o homem, com toda a sua capacidade intelectual, o responsável pela própria criação, e nem de  todas as  demais coisas que ele consegue enxergar em sua volta, devemos ter a humildade de reconhecer que há um Criador por trás de toda essa engenharia que tanto nos inquieta e que tanto nos tem causado  separação  ao longo dos tempos. E, certamente, chegaremos à conclusão de que esse tal Criador deve tratar-se mesmo de um ser sobre humano, maior, mais forte, mais inteligente  e mais poderoso, a quem todos devemos temer e ter obediência. Ao menos, porque Ele nos proporcionou esta oportunidade de vivermos juntos toda essa experiência que temos vivido neste planeta. E temos tantas possibilidades de escolha, tantos caminhos à nossa frente, mas apenas uma  escolha nos conduzirá ao rumo certo: Aquele caminho mais estreito.
          O que podemos observar e perceber, também, é que o  ovo que nos originou lembra mesmo uma pequena capsula vital, destinada a abrigar e a desenvolver cada ser vivente. Esse ser vivo, depois de  completamente desenvolvido, ou maduro, torna-se capaz de reproduzir um outro ovo, a partir de si mesmo, o que deve ser feito bem antes de sua morte,  como garantia da preservação e continuidade de sua espécie.
           Na  realidade, de uma maneira ampla, podemos considerar que somos todos animais ouvíparos, pois  que nos reproduzimos através de ovos. Evidentemente, cada um com sua  formação genética. No nosso caso, em especial, o ovo é desenvolvido no útero da  mulher.
          Os principais desafios  enfretados pelo homem, na luta pela sua sobrevivência, são remotos e oriundos  da necessidade em manter-se vivo. Todos os animais sentem necessidades e desejos comuns  e, por isso mesmo, tendem à formação de grupos, pois juntos se sentem mais fortalecidos e mais seguros  para enfrentar as adversidades. Bem antes do início da agricultura, os grupos eram nômades, viviam mundando de lugares em busca de terras férteis que garantissem alimento e água para todos. Nessa época, tudo o que era conquistado era dividido entre todos, de maneira equânime.  Foi o que ocorreu logo no início da humanidade. Alguns grupos  se separaram e, ao longo do tempo, tornaram-se  estranhos entre si, esquecendo-se de sua origem comum, que os torna irmãos. As alterações climáticas e o medo da escassez separaria o homem em bandos o que culminaria, mais tarde, na inevitável disputa por territórios e pelas regiões mais abundantes. Por causa do seu instinto animal, na luta pela sobrevivência, o homem deixou-se dominar e se tornou egoísta, preocupando-se mais com o alimento necessário ao seu corpo, esquecendo-se do alimento espiritual, afastando-se do seu Criador.           
           Contudo, apesar de sua inteligência, o homem não conseguia compreender nem controlar os diversos fenômenos que ocorriam  com certa frequência na natureza. Por isso, mais uma vez, muitos  se voltaram para o Criador, na busca de encontrar respostas  que os ajudassem a conduzir o seu povo. Depois da produção agrícola, o homem passou a fixar-se  em determinados locais, principalmente, naquelas regiões onde havia terras férteis e água em abundância.
        Outros problemas  vão surgindo com o tempo. Os grupos  ficavam cada vez mais numerosos, o que dava origem a diversos conflitos.  Muitos se aventuravam na busca de outros lugares para se instalar e desenvolver a sua própria agricultura, dando origem a outros povos. Assim,  diversas regiões foram sendo habitadas ao longo de vários séculos, por povos que tiveram a mesma origem étnica.  Podemos perceber tudo isso através do exemplo do mito do povo sumério.
          Até que um dia, muitos deles, não satisfeitos e possuidos pela ganância passaram à fase da exploração dos próprios irmãos. Vários grupos,  esquecendo de sua origem comum, e de que somos todos irmãos,  tornaram-se estranhos e formaram poderosos  exércitos de guerreiros. Com isso, passaram a invadir os territórios alheios, habitados por povos pacíficos, a fim de se apossar de  suas terras e de todos os seus bens, escravisando, por consequência, todo o povo dominado, obrigando-o a trabalhar de graça. Nas batalhas, os líderes  vencedores, convencidos de sua superioridade diante dos seus adversários derrotados, achavam-se poderosos e em condições de comandar-se a si mesmo. Logo, os  líderes passaram a garantir a segurança e a alimentação de todo o seu povo, além de estabelecer as normas de conduta. Não demorou para que surgisse a filosofia que pregava a teoria em que os mais inteligentes e mais fortes deveriam  dominar e comandar os mais fracos e menos inteligentes. A estes, caberiam  apenas aquelas  funções de serviçais. Muitas cidades famosas foram construídas dessa forma.  O resto da história todos nós sabemos e onde chegamos.
          Várias religiões foram criadas a fim de explicar o inexplicável: a injustiça, a exploração, a matança de inocentes, as invasões de terras, as escravidões, a corrupção, entre tantas outras mazelas criadas e mantidas pelos dominadores. Depois  que a sociedade foi instalada e  desenvolvida sobre esse ambiente hostil, muitas religiões pregam o medo  em um  deus vingativo, com características humanas e distorcem a verdade, pois, até hoje, foram incapazes de  transformar o mundo e mudar essa realidade de desigualdade entre as pessoas. O que fazem é muito pouco. Seguir uma das religiões criadas pelos próprios homens, e são várias, significa seguir orientações impostas, no caso do cirstianismo,  repetir textos bíblicos, denominando-os como a "Palavra de Deus",  sem efetivamente praticá-los.  Fazer aspenas isso tornou-se inútil, pois  cada um acredita naquilo que quiser, e muitos seguem seus próprios conceitos e seguem seus  rumos, cada um numa direção,  e ponto final.
        Mas, será que é mesmo impossível reconstruir um modelo social onde o homem se aproxime mais daquele estado de natureza dito por Rousseau? Será que essa estrutura social separatista, cheia de violência, de injustiças, de mentiras e de maldades, na qual temos convivido ao longo de todos esses anos, não pode ser mudada? Será que é mesmo impossível que possa existir um equilíbrio entre essas duas realidades?
Eu pergunto o que as religiões fazem ou podem ou devem fazer  efetivamente para que se construa verdadeiramente uma sociedade mais equânime e rigorosamente cristã, seguindo apenas as orientações do Senhor Jesus, como está determinado no Novo Testamento? Será que uma educação das crianças de hoje, que serão os adultos do futuro, não poderia ajudar no processo de mudança desses valores mentirosos,discriminatórios, malévolos e desumanos que devoram a nossa sociedade, causando a infelicidade de tanta gente? Será que já não estaria na hora de darmos início a essa revolução, que  transformaria os homens e, por conseguinte, toda a  nossa sociedade?
De uma coisa eu estou certo, sozinho jamais conseguirei alguma coisa nesse sentido. Por isso, estendo as minhas mãos a quantos estiverem dispostos a começar a trabalhar e ajudar  nessa luta.

Comentários

Célia disse…
A semente da existência de uma superiodade sempre existiu, desde que os primeiros homos sapiens começaram a ter idéias ou seja a formular pensamentos.As religiões criadas para exercer o poder de legislar e aplicar a ordem muitas vezes fomentam a separação da humanidade pois quase todas elas querem para sí o título de melhor e mais certa. As filosofias deveriam ser seguidas como as Jesus, Buda e Ghandi tirando-se delas o melhor possível.

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