Comentários Sobre Ciência e Fé.



         Eu não tenho a menor dúvida de que o maior desafeto das religiões  sempre foi o conhecimento científico. Sempre foi esse o grande inimigo, vindo da parte do demônio. Porque é ele que  concede ao homem o conhecimento capaz de  contestar alguns dogmas absurdos  e impostos ao homem em nome da fé.             Assim é que foram considerados ateus  e excomungados todos aqueles que  fizeram uso da ciência para explicar, por exemplo, que  a terra é redonda e que, na verdade, é ela que gira em torno do sol, não o contrário como queriam os religiosos do passado. Um erro que causou vários atos maculados pela covardia e pela injustiça.
          Vem de longe a discussão  sobre a fé e o conhecimento científico.  Do ponto de vista científico,   sabemos que  qualquer  pessoa, seja ela de fé ou não,  que esteja  passando por  problemas  de saúde deve sempre  recorrer a um  médico para realizar uma consulta. Independente da fé do paciente, o  trabalho do médico deve ser investigar qual a doença e quais as suas possíveis causas. Depois da definição do diagnóstico, iniciar o  tratamento em busca da cura. Tudo isso é ciência, pois o médico  precisa da formação e  do conhecimento científico para  examinar o paciente e identificar que tipo de enfermidade ele tem. Depois, precisa conhecer qual o tipo de tratamento   que deverá ser ministrado naquele caso específico, como por exemplo,  quais remédios e em que doses  irá receitar para o paciente tomar e alcançar a cura.
        Bom, a pergunta que não quer calar é a seguinte:  sendo uma pessoa   dotada  de uma  fé  inabalável, daquelas que consideram o conhecimento científico  algo ameaçador, será que ela deixará de ir ao médico para realizar uma consulta?  Pergunto isso porque, de acordo com a tradição, o que importa mesmo é ter fé, pois é a fé  que irá curar as  enfermidades das pessoas.   Será que um paciente sem fé não teria a menor condição de ser curado de uma enfermidade? 

       Acho que  a resposta  a essas questões dependerá da interpretação   que se faz  do caso concreto.  Porque  muitos  dirão  que  foi  Deus  que usou aquele médico para libertar o paciente de fé  do incômodo de sua  doença.  No caso, a gente teria que admitir, pelo menos, que a fé precisa de uma ajudinha da ciência para ter efetividade.  Se é assim, então por que e pra que ficar criando tanta polêmica em torno do conhecimento científico, se o próprio Deus faz uso dele para  ajudar  e curar  as dores de seus fiéis? 

           Mas, por falar em fé, voltando lá  para o início da criação,  no Livro de gênesis  está escrito que o Criador mandou a humanidade crescer e se multiplicar  -   "Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra" (Gn 1, 28).   Esse certamente é um dos mandamentos mais  cumpridos  pela humanidade em nome de sua fé. Mas, também  por aqueles que não  possuem fé alguma.   Certamente por isso mesmo,   já ultrapassamos a barreira dos  sete bilhões de pessoas neste planeta. O importante é se multiplicar, porque o importante é a vida,   não importa a qualidade de  vida que as pessoas terão  neste planeta.  Não importa  o  tamanho da escravidão disfarçada que existe no mundo, o importante é se  multiplicar para  cumpri o  mandamento direitinho.  Isso é ter fé. Não importa o que recomenda a ciência nem as consequências.

           Por outro lado, talvez seja  exatamente por esse  desejo de se multiplicar e cumprir o tal mandamento divino que  exista tanta resistência nas pessoas de fé  em  respeitar   as relações homoafetivas e,  menos ainda,  aceitar  o casamento entre pessoas do mesmo sexo.  Sim, porque segundo os que são contra  essa  forma de relacionamento humano  não se justifica porque não cumpre o mandamento da multiplicação, pois não  existe a menor  possibilidade de haver procriação entre duas pessoas do mesmo sexo.               Não há como duas pessoas de mesmo sexo gerarem uma criança. Assim, tem-se que será  o fim da espécie humana. Mas, esquecem que  há muitas outras maneiras  para engravidar uma mulher. Imaginemos que um casal de duas mulheres se casem e  uma delas ou ambas decidam ter um filho. Elas podem perfeitamente adotar uma criança ( há tantas  vivendo por aí nos abrigos, muitas abandonadas pelos pais heterosexuais ) Elas podem também  fazer uso da  inseminação artificial fazendo uso do conhecimento científico e gerar um bebê, cumprindo o mandamento da multiplicação.

           Qualquer especie de casal pode ter um  ou vários filhos. O que estou querendo dizer é que procriação não está necessariamente ligada ao sexo.  Como se pode ver, o que importa nisso tudo é que não será  por causa das relações homoafetivas  que  o  tal mandamento divino  da multiplicação da espécie  deixará de ser cumprido. O importante é que as pessoas sejam felizes e que todos saibamos respeitar os caminhos diferentes que cada um procura seguir em busca dessa felicidade. Ainda que seja a ciência  o meio usado por Deus para essa finalidade.

           Eu só gostaria de deixar uma frase sobre essa questão da fé  e sobre esse  tal mandamento sobre crescer e multiplicar  a espécie para que  todos façamos  uma reflexão. Sei que muitos costumam interpretar os textos bíblicos ao pé da letra  quando isso é conveniente para suas crenças. Contudo,  consigo enxergar  na terra uma população de  mais  de sete bilhões de habitantes  que ao longo dos últimos anos  tem causado  uma imensa  destruição  dos recursos naturais do planeta. Isso tem acontecido em função das necessidades econômicas, das  necessidades de  produzir  alimentos para  tanta gente. Diante desse modelo baseado na ganância e no acúmulo de riquezas que escravizam e exploram bilhões de pessoas,  como no caso dos garimpos, por exemplo,  entre tantas outras formas de exploração humana, que tem espalhado  a fome  e a miséria neste  mundo.

        Diante desse  caos inevitável, dessas cenas chocantes que temos assistido diariamente nos noticiários, de uma coisa tenho certeza, seria muito melhor  se existissem no mundo  menos   pessoas preocupadas apenas em cumprir o mandamento de se multiplicar e que  existissem mais gente  preocupada  em cuidar do planeta, em preservar o meio ambiente com todas as suas biodiversidades.  Que existissem  apenas meia dúzia  de "gatos pingados" como diz o matuto, mas que o pouco que existisse respeitasse  a decisão e as  escolhas uns dos outros, que respeitassem as diferenças  e que deixassem cada um viver  e fazer de suas vidas o que bem entendessem.



           Afinal, para que servem  bilhões  e bilhões de  hipócritas vivendo como zumbis, enfeitiçados pela mentira, cheios de  fé e rancores,  incapazes  de praticar gestos de compaixão, de solidariedade e de tolerância  em relação ao outro?   Para que serve tanta gente  apenas  para alimentar  esse  sistema maldito e  injusto  implantado  e dominado  desde o início dos tempos  exatamente  pelos  que  mais   se  dizem pessoas de fé?  Um  mundo cheio de  ódio e intolerâncias, refletidos  através de várias   formas de  violências, nutridas  por um   preconceito  sem sentido, onde muitos são   excluídos e obrigados a se esconder como se fossem criminosos.

          Não, não  é  essa  a fé  com a qual eu comungo, uma fé que justifica  tantas  insanidades  praticada  pelo homem  ao longo de sua história em nome de Deus.







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