Você é contra ou a favor do aborto?



            Não é fácil responder tal pergunta. Porque se eu disser que sou a favor, estarei mentindo. Por outro lado, se eu disser que sou completamente contra, também estarei mentindo.  No entanto,  não há em mim qualquer dúvida em relação  ao que penso  sobre esse assunto. Mas, creio que não poderia responder pura e simplesmente que sou contra ou  favorável ao aborto apenas porque a minha religião assim estabelece. Pois, se "penso,   logo existo".
       Se você conhece bem  as sábias mensagens  de Jesus, deve saber que ele sempre fez uso de metáforas através dos termos  agrícolas. Porque  a natureza é sábia, e por isso mesmo devemos  sempre observar o que ela tem a nos dizer. É  com essa forma  de observar o mundo que vou  construindo o meu pensamento.


        Porque  se observarmos a natureza, iremos perceber que no mundo existe um controle  que nos leva a acreditar que o mais importante  são as qualidades e não as quantidades.  Todo o bom agricultor sabe que, quando se quer qualidade numa safra,  quando  há uma grande quantidade de frutos na árvores, há o costume de se eliminar  alguns brotos a fim de que os que ficam sejam de uma melhor qualidade.  

 
       Com isso, a natureza nos ensina, que é preciso haver  um processo de seleção natural para que os poucos sejam melhores. É assim, por exemplo, que acontece  antes da inseminação do óvulo pelo espermatozoide. Milhões deles não vingarão.

 
        É fato inegável  que as religiões sempre procuraram construir uma sociedade fundada em valores  que  acreditam sejam os melhores para a convivência pacífica, principalmente  numa sociedade tão cheia de contradições e interesses antagônicos como sempre foi a  sociedade humana. Mas, apesar de reconhecer a profundidade  dos argumentos de  grande parte das pessoas e de reconhecer  a magnitude dos fundamentos utilizados  pelas religiões, as quais  pregam defender a vida acima de qualquer outro bem,   ponho-me  entre aqueles que defendem que o estado  deve ser livre e soberano para, dependendo da situação social  em que se encontra,  aprovar lei que conceda o direito individual às pessoas a praticarem o  aborto, desde que  este seja  fruto de uma decisão judicial, depois da análise do caso concreto.  Podendo, inclusive, o Juiz determinar uma cirurgia que impeça  alguém de engravidar outra vez, a depender da situação econômica  e da quantidade  de filhos que a mãe envolvida possua.


           Claro que defendo a ideia de que, antes, as pessoas sejam educadas a evitarem a gravidez indesejável e sem planejamento.  É preciso que o estado e a sociedade procurem debater essa realidade com uma certa independência dos conceitos e preconceitos religiosos.  
       Porque, hipocrisia à parte, uma coisa é certa, minha gente, deixar nascer uma criança sem responsabilidade,  para depois jogá-la no lixo,  deixá-la morrer de fome ou por falta de atendimento hospitalar?  Quantas crianças são marginalizadas, assassinadas,  estupradas ou encaminhada  à prostituição?  Quantas não são  induzidas  a uma vida criminosa?  Será que tudo isso não configura crimes ainda mais graves e mais hediondos que a legalidade  do aborto?
             Sei que muitos vão me criticar e dizer "ah, mas isso é um absurdo!. Mas, quantos desses que  criticam e  condenam  a aprovação do aborto, convictos de que estão defendendo o direito à vida, caminham  por aí, indiferentes  diante das crianças que dormem nas ruas, que são exploradas pelos pais, que morrem sem atendimento médico nas  redes  públicas de saúde, que  catam lixo para comer e sobreviver, que trocam o corpo por drogas, que sofrem diversos tipos de violência, que são espancadas inclusive  pelos pais  viciados. Quantas não morem ou não saõ mutiladas pelos horrores das guerras? Ah, mas  na guerra se pode matar as pessoas sem problemas, não é mesmo?                                                 
                                     
     
     Será que tudo isso não  representa uma espécie de aborto, onde  tantas crianças,  geradas em seu anonimato, já nascem sem direito à vida, sobrevivem dormindo  ao relento, abandonadas por uma sociedade hipócrita, indecente, egoísta, que se afunda a cada dia em seu falso moralismo?  

    
                                       


                                                                           
   Uma sociedade  constituída por pessoas   que dizem defender  as leis de Deus, desde que  não assumam um  compromisso, desde que não sejam convocadas a  deixarem suas zonas de conforto  e não sejam chamadas a resolver seus graves problemas, problemas que ocorrem  há séculos, principalmente por covardia ou por acomodação. Pessoas que sabem criticar e acusar, mas  não  se engajam na busca de solução para os graves  problemas sociais que acontecem em sua volta.   
           
              Conclusão:  para a nossa sociedade, deixar uma criança nascer para depois deixá-la  morrer de miséria, de fome, na guerra e por exclusão social  até que pode, é normal e as pessoas encaram isso numa boa. Porém, evitar que  ela nasça é crime, é contra as leis de Deus.  





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