Na Sociedade, a verdade é a regra ou a exceção?



          Infelizmente, a verdade é uma exceção dentro das nossas relações sociais. Porque para se conviver numa  sociedade complexa  como a nossa, é preciso manter sempre  as aparências. E isso não chega a ser por conta da maldade em si, mas por uma questão de autodefesa. Porque os seres humanos ainda não aprenderam a assimilar e conviver com a verdade. Muitos dos leitores que estão lendo esse texto, certamente devem estar considerando  uma leviandade esse  meu pensamento e eu  compreendo e entendo perfeitamente  essa opinião.         
          Sabemos que, na grande maioria das vezes, se quisermos preservar uma amizade, temos que representar um papel estabelecido nos anais das experiências da própria vida. Não são poucos os amigos diante dos quais temos que manter uma certa  postura, dignas daquelas denominadas "fakes cibernéticos", que costumam criar um falso perfil, personagem fictício, apenas para  em anonimato,  manter amizades nos sites de relacionamentos  via internet.  Talvez seja por isso que esses sites fazem tanto sucesso. Porque ali  as pessoas não se veem compelidas a se comunicar olhando nos olhos uma das outras.   
             Um exemplo que demonstra muito tudo isso, podemos observar no simples fato de as pessoas se cumprimentarem quando se  encontram. A praxe é sempre a mesma:  pronunciar a tradicional pergunta:  "como vai?"  Todos sabemos e esperamos sempre a mesma  resposta: " tudo bem".  E, comumente, muitos  ainda acrescentam um "graças a Deus".  Mas, sabemos  que ninguém pergunta isso porque esteja interessado em ouvir a verdade sobre o momento pelo qual estamos passando.
              É evidente a preferência por encontrar pessoas alegres, de auto astral, as ditas positivas, que sorriem, que contam piadas, demonstrando que estão sempre de bem com a vida. Na realidade, isso faz parte de uma tradição dentro da denominada etiqueta social. De maneira alguma, as pessoas estão interessadas  em saber das dificuldades ou dos problemas pelos quais o outro esteja passando naquele momento. Até porque  seria desagradável  encontrar pessoas  que ficam o tempo todo expondo seus problemas pessoais, como se quisessem  compartilhar os seus fracassos. 
           Vez ou outra até que tomamos conhecimento da existência de pessoas ajudando outras pessoas em dificuldade.  Tanto é verdade, que muitas vezes,  chegamos até a chorar de emoção quando assistimos tais cenas. Mas, lamentavelmente, essa não é a regra e sim a exceção. A solidariedade  costuma vir sempre através de  frases tradicionalmente  disponíveis no nosso contexto social, repetidas  deveras como uma forma de alento:  "tenha fé em Deus que tudo isso vai passar".  "Você vai sair dessa."    Porque a solidariedade  é sempre demonstrada muito mais por palavras e menos por ações. Afinal, a regra  é  cada um carregar e suportar a sua cruz, e que Deus nos ajude a  todos. Não é assim mesmo que funciona?
            E assim caminha a humanidade. Mantendo viva a esperança, sonhando com um mundo idealizado e cheio de fantasias diante de tantas mentiras. Preferindo conviver assim, exatamente dessa maneira, para não ter que encarar uma  realidade dura como a sociedade que construímos. Talvez porque nesse mundo, seja muito mais difícil suportar o peso e a dor de uma consciência que insiste em lembrar que também  somos responsáveis pelo que acontece lá fora.
        Enquanto isso, muitos caminham invisíveis por entre as multidões fanáticas. Sozinhos,  vão carregando suas verdades, seus fracassos e suas dores.  Até que um dia  adormecem e sonham. Na esperança de chegar em algum lugar mais belo e mais solidário, um mundo melhor, mais verdadeiro e menos cruel do que esse no qual vivemos, até que a morte nos separe.

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