Religião não salva, mas ajuda.
Tornou-se público e bastante comemorado o fato
do ator Silvester Stallone, o famoso Rambo das telas do cinema, ter decidido se tornar evangélico. Um fato que virou notícia
internacional há poucos dias atrás. Como sabemos,
os Estados Unidos estão entre os
maiores países evangélicos do mundo. Porém, muita gente aqui no Brasil
aproveita para fazer declarações de que
agora ele está salvo, que mais uma alma perdida fora conquistada pra Jesus.
Tá legal. Não vamos discutir
sobre isso. Mas, vamos imaginar que, não
apenas Silvester Stallone, mas eu,
você, todo mundo entrando numa dessas igrejas evangélicas e
aceitando Jesus como salvador, conforme
pregam os seus pastores. E quando digo todo mundo, estou me referindo a toda população do planeta mesmo.
Imagine como ficaria o mundo se todos abandonassem as suas religiões e se curvassem diante dos
apelos daqueles que se dizem crentes e se tornassem
evangélicos, seguidores dos ensinamentos de seus ilustres Pastores.
Vamos imaginar que todos nós seríamos, a
partir desse dia, orientados a obedecer apenas aos comandos e seguir as
ordens de pessoas como o sr. Silas Malafaia, RR Soares, Veldemiro Silva, Edir Macedo, entre tantos outros com a mesma sabedoria, apesar de pertencerem a seguimentos diferentes, mas
dentro da mesma perspectiva
evangélica. Como você acha que o
mundo ficaria? Melhor ou pior? Ou
ficaria tudo do mesmo jeito? O
que você acha que mudaria no mundo a
partir do momento em que todos passassem a seguir a mesma doutrina pregada pelos
pastores das igrejas evangélicas? Será que as pessoas iriam mudar de
comportamento e de atitude em relação aos seus semelhantes, apenas porque passaram a ser crentes?
Eu procuro responder a
essas questões polêmicas, observando o comportamento e as atitudes
daquelas pessoas que já fazem parte de alguma dessas igrejas
evangélicas, os denominados salvos, como eles mesmos costumam se intitular.
E olha que conheço muita gente
que faz parte
do conjunto das religiões evangélicas, a começar por alguns pastores.
Confesso que, quando encontro
alguém que se diz evangélico, procuro identificar qual
seria a diferença entre pertencer ou não a essa religião. O que há de diferente nessas
pessoas? E fico atento não exatamente às coisas
que eles dizem em suas pregações,
mas nas coisas que eles praticam.
Procuro comparar as suas atitudes, não apenas em relação às pessoas que pertencem a outras religiões, mas principalmente às que fazem parte das mesmas
congregações. Sinceramente, são tão poucas as diferenças encontradas, que não dá para caracterizá-las como especiais,
diante das demais. Porque posso garantir que erros e acertos estão presentes
em todas elas. Não fumar, não beber, não dançar, não isso, não aquilo, são restrições presentes nas igrejas evangélicas, bem como nos consultórios médicos. Porque por um lado são coisas do mundo e por outro prejudicam a saúde.
Parece que se
alguém decide seguir a religião evangélica precisa deixar imediatamente os
vícios do mundo. Deve se afastar de velhos amigos, da família que não comunga
com as mesma filosofia. Enfim, deve se
afastar daqueles que não são crentes, porque vivem em pecados. Tudo parece ser
condenável, menos os carrões, as mansões luxuosas, as contas bancárias
milionárias em bancos no mundo inteiro, as mordomias, a exploração do comércio,
as roupas caras, os bons e caros hotéis
e restaurantes, as viagens e férias internacionais, os jatinhos de luxo, etc,
etc, etc. Mas, essas coisas são luxos do mundo.
Falar todo mundo pode. É bem verdade que o dom de influenciar e
convencer as pessoas são técnicas que se aprende e se aprimora em cursos de oratória,
principalmente, nas faculdades
especializadas em técnicas de marketing. Hoje em dia , é muito fácil fazer um curso de oratória, basta ter o
dom para articular bem as palavras e se especializar
para desenvolver ainda mais a capacidade
de falar em público. Então, além dessa capacidade que muitos pastores possuem; além dessa desenvoltura admirável de
falar em público, que devo reconhecer
; além
desse poder de envolver as pessoas em torno de suas eloquentes
mensagens, principalmente aquelas pessoas com menos cultura; além da força de sua oratória, o que
mais torna os pastores evangéilicos pessoas tão especiais? O que os torna tão diferentes dos reles
mortais, como eu, por exemplo? Sei que
muitos responderão simplesmente que eles
foram chamados para trabalhar para
a obra de Deus. Foram escolhidos pelo Senhor. Muito bem.
Desde
minha juventude, aprendi a
admirar e a respeitar Dom Hélder Câmara. Para os que quiserem conhecer a sua história, acessem
o site ( http://www.cefep.org.br/bio_dom_helder
).
Passei grande parte de minha adolescência ouvindo as coisas bonitas que ele falava e
ensinava em suas Missas dominicais. Eu costumava ouvir , inclusive, suas pregações numa conhecida emissora de rádio. Mas, como vivíamos no período de ditadura
militar, não sei se foi exatamente por
causa de sua postura firme em defesa
dos direitos dos mais humildes, que ele conseguiu despertar em mim um fascínio extraordinário. O fato é que aprendi muita coisa boa com
ele e procurei me tornar uma pessoa melhor do que era e seguir o caminho do bem. Não era por causa da sua religião que o
admirava, mas pelo que ele era e
representava para a juventude e para todo o povo carente como eu.
Porque,
talvez, se naquela época, apesar das dificuldades e da luta pela sobrevivência enfrentadas pelas classes mais pobres, onde
muitos viviam na miséria e morriam de
fome, Dom Hélder vivesse
falando em prosperidade, mostrando pessoas bem sucedidas depois que viraram crentes.
Pessoas que ganharam muito dinheiro e
bens materiais. Se Dom Hélder vivesse ostentando e defendendo uma vida cheia de riquezas, vestindo ternos
importados. Se ele tivesse
comprado um jatinho particular para
viajar e ganhar dinheiro com suas palestras. Se ele possuísse um patrimônio
avaliado em milhões de dólares e vivesse numa
mordomia sustentada,
principalmente, pelas doações dos seus
fiéis, acredito que ele
não seria merecedor da mesma
credibilidade perante os jovens que o amavam e o admiravam tanto.
Contudo,
o que Dom Hélder Câmara nos deixou como
legado foi a sua coragem, a sua
humildade e a sua fé. Ele nos deixou a vontade de lutar e seguir seus exemplos de servir
aos que mais necessitam. Muitos o
consideravam um pouco ranzinza por não abrir mão de suas convicções. Mas, isso não retira nem macula seus méritos.
Diante de tudo o
quanto vejo acontecendo hoje em nosso país, posso afirmar com plena convicção que um dos grandes males de nossa
humanidade é a concentração da renda produzida. Sabe-se que não existe tudo
para todo mundo. Por isso uma das funções primordiais da economia é
administrar o uso dos bens
escassos. O ar,
por exemplo, existe em abundância na atmosfera, por isso ele
não faz parte dos interesses econômicos.
Pelo menos, não até agora.
Não há
como todo mundo ser rico nem ter um patrimônio invejável como Silas Malafaia, como RR Soares, nem como
Edir Macedo. As necessidades são inúmeras e não existe riqueza disponível e suficiente para todo mundo. Por isso é
preciso que a economia seja bem administrada a fim de que a divisão da riqueza produzida seja feita de maneira justa e equânime, conforme
a vontade de Deus, expressa por Jesus. Como se pode perceber, esses senhores fazem parte do grupo das minorias
privilegiadas. Sorte? Oportunismo? Ou será que eles
foram predestinados por Deus para serem o que são? Será que eles foram os escolhidos pelo Senhor para terem direitos especiais às suas mordomias, mesmo diante dos sacrifícios
dos seus seguidores? Tire suas próprias conclusões.
De minha parte, não creio que o mundo se tornaria melhor se todos se tornassem
evangélicos, ou católicos, ou judeus. O mundo se tornará melhor, meus
amigos, quando cada um de nós conseguir enxergar o verdadeiro Deus na
pessoa do seu semelhante, independentemente
da religião que decida fazer
parte. Porque religião nenhuma salva
ninguém. Somente o amor consegue
transformar e salvar uma pessoa. Então, amemos e sejamos todos salvos.
Semana que vem
continuaremos com esse assunto. Até lá.
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