Para que serve uma criança?
Quando crianças, todos nós olhamos de uma maneira diferente para o mundo em nossa volta e costumamos criar
uma realidade cheia de fantasias. A
construção de um mundo cheio de encantamentos é uma das características das
pequeninas criaturas. Com as nossas emoções infantis, normalmente construímos um reino paralelo que
contrasta com uma realidade, muitas vezes, cruel e desilusória. Em sua tenra idade, uma criança não consegue
enxergar a complexidade que é o mundo
dos adultos nem perceber as regras
desse jogo horrendo,
do qual somos obrigados a participar, na maioria das vezes, por uma necessidade
de sobrevivência.
As primeiras lições que os adultos normalmente costumam dar
às suas crianças estão sempre relacionadas com
a sublimação do medo. A criança é ensinada normalmente a ter medo das coisas. Quem não
se lembra da história do famoso Bicho-Papão? Porque quando as crianças começam a
despertar para as coisas que as envolvem ainda não sabem dos perigos
que correm diariamente. Principalmente aos pais, cabe a difícil tarefa de cuidar e de protegê-las para que elas não sofram as
consequências causadas pelas diversas armadilhas ocultas por trás dos deslumbramentos e das suas
precoces descobertas. Infelizmente, o medo passou a ser utilizado como forma de intimidação e como
instrumento de exploração dominadora.
A família deve ser o primeiro aconchego
para a proteção e cuidados com as
crianças que chegam. Ela deve servir de base para os primeiros
alicerces implantados ao longo da existência desses seres pequeninos e indefesos. Passada a
euforia dos primeiros momentos da chegada do novo ser, a família deve agradecer
a Deus pela oportunidade e por todas as maravilhas relacionadas ao exercício do amor, do carinho,
da emoção, da alegria, da confraternização
e da união. Agradecer, também, pela oportunidade de poder exercer um espírito de solidariedade, de abstinência e
de sacrifícios. Quantas horas de sono,
quantas angústias e quanto sofrimento não
sentimos por causa de um simples
choro no meio da noite.
Como fora dito antes, repetindo as sábias
palavras de um velho mestre, professor de linguística, do qual não me ocorre
o nome agora, mas de quem jamais esqueci os ensinamentos, “uma criança
serve para aprender”. Quando eu era um menino, confesso que senti falta de alguns ensinamentos básicos e
sei que isso dificultou, e muito, o meu desenvolvimento como pessoa dotada de direitos e deveres. Não tiver uma família completa em conformidade com a tradição, mas nem por isso me tornei um ser
perverso ou malévolo. Apesar de não compreender porque a minha família era diferente das outras, eu tinha um lar. E quando falo um lar não me refiro a um lugar
para morar, mas um lugar onde uma criança pode crescer com segurança, com
disciplina, com responsabilidade e com respeito. Consciente de que um dia ela também
se tornará um adulto e deverá estar preparada para fazer parte da sociedade daqueles que tomam suas decisões sozinhos e devem assumir
as responsabilidades e as consequências dos seus atos.
Ainda em minha fase juvenil, as coisas
que ouvi
de alguns adultos com quem
convivi me marcaram profundamente. Foram conselhos imprescindíveis
como os que diziam o seguinte: você hoje ainda é uma criança, assim como eu fui há muito tempo atrás. Um dia você vai crescer e se tornará um
adulto como sou agora. Eu não posso mais
voltar a ser criança como você, mas você pode escolher ser um adulto como eu sou. Ou você pode olhar em sua
volta e escolher dentre os adultos que você conhece aquele que mais
gosta e mais admira. Porque cada
criança deve escolher alguém para servir como exemplo e como um modelo. Você
precisa saber que temos energias para
praticar coisas boas e coisas ruins. No mundo as pessoas devem escolher entre praticar
coisas boas e outras coisas ruins. Seja
lá como for, qualquer escolha que você faça haverá consequências. Por isso, devemos
pedir a Deus sabedoria e capacidade para discernir qual a melhor opção. Então,
você precisa procurar conhecer melhor a
alma das pessoas que te cercam e procurar aprender com aquelas que
têm bons exemplos para oferecer.
Os ensinamentos que damos a uma criança devem
vir com exemplos de nossa própria vida. Quando
ensinamos algo a uma criança
devemos servir nós mesmos de exemplo, não como santo, como um ser
impecável, oculto por trás da hipocrisia. Mas, como um ser humano, que também comete erros,
que falha, e que sofre por isso. Um ser normal, como todo mundo que, longe da
perfeição, também precisa aprender,
sempre. Que deve assumir as suas fraquezas, as suas falhas e os seus desvios de
conduta, para refletir e verificar se
deve servir como modelo e exemplo para o
desenvolvimento de uma criança. Aí está a nossa maior responsabilidade para a
construção de uma sociedade e de um
mundo melhor.
Então, agora
olhe para dentro de si mesmo, reflita e responda
de acordo com a sua consciência, sinceramente, diante das coisas que você pensa
e de tudo o quanto tem praticado ao
longo de sua vida, você se considera um bom exemplo a ser seguido? Você se acha o modelo ideal a ser imitado por uma criança, para a construção de
uma sociedade e de mundo melhor?
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