Sobre Escola e Sociedade

                A nossa Carta Magna diz que a educação é um direito do povo e um dever do estado.  A educação é sempre restrita ao âmbito da escola em seu sentido mais amplo.  Mas, além  de corrigir a confusão entre o  conceito de educação e  de instrução, levantado no texto da semana retrasada,  é importante  dizer  que  a  escola deve trabalhar  sempre em sincronia com as tradições do seu povo, no sentido  de agregação  comunitária, considerando sempre  a realidade  da sociedade em que vivemos e que  pretendemos transformar.
               É preciso, então, construirmos um  conceito novo de escola,  a qual não deve ser  considerada  apenas  como uma estrutura física,  mas como uma oficina de possibilidades  ilimitadas, de realização  sonhos e de encantamentos. Porque é um erro elementar muito praticado nos dias atuais, principalmente  pelas autoridades competentes,  considerar a escola apenas  como um meio de se conseguir uma formatura, onde a estudantada deve dedicar quatro horas  por dia, durante cinco dias por semana e provar um conhecimento mínimo daquilo que lhe foi transmitido em sala de aula. 
              Porque o nosso modelo se fundamenta  muito mais em conceitos programáticos  direcionados para  criar e preparar  verdadeiras  máquinas humanas  numa  busca  conflitante de superar uns aos outros.  Numa corrida  maluca  imposta pelo mercado de trabalho.   Para isso,   torna-se muito mais interessante  que os estudantes aprendam a se preparar para a intensa batalha  dos concursos públicos, neste  mercado selvagem de competição  pela  sobrevivência, do que  para  o exercício da cidadania, numa convivência  fraternal e solidária entre todos.  Prepara-se a pessoa para  concluir cursos e obter certificados  que,  muitas vezes,  não  refletem  o real nível de conhecimento e de preparo do seu portador. Porque isso parece ser muito mais  importante para as estatísticas, do  que  acabar com tantos “jericos de ternos”   com diplomas nas mãos sem saber de nada, como bem disse  o colega Wallace Menezes.
                A escola deve seguir  uma linha e um  modelo que apresentem  mais engajamento social,  procurando agir como um  instrumento de interação familiar e comunitária, dentro de uma filosofia  de respeito mútuo para a grandeza do país e  para a honra e glória do nosso Criador.  É com esse pensar que o estado e o verdadeiro educador  devem  ter  um compromisso muito além dos muros  da escola. Ele  precisa  se preocupar muito mais em  trabalhar  as crianças como cidadãs do amanhã, preparando-as  para o exercício da cidadania plena, seja como eleitor, consumidor, trabalhador,  vizinho, como torcedor, como usuário do trânsito,  etc. Enfim, ser uma pessoa consciente e proativa  dentro de um pais que precisa urgentemente de mudanças sérias e verdadeiras.
                A escola como formadora de cidadãos do futuro, deve trabalhar desde cedo a consciência  dos  direitos e deveres fundamentais das pessoas,   valorizando  e vivenciando o pleno exercício da democracia. Uma criança já  deve  aprender, por exemplo,  a conviver com as diferenças e respeitar o direito de expressão  de cada um,  ainda que  a opinião vá de encontro ao pensamento da maioria. Dessa forma, a minoria dissidente  também  aprenderá  a conviver com  as adversidades de opiniões.  
               Muitos  professores vão  para  as sala de aula apenas para ensinar a sua matéria e nem sempre  se preocupam com os aspectos  relacionados à humanidade.  Eles não percebem que também  estão colaborando para  a construção e manutenção da desumanidade.  Ignoram os conflitos individuais e acham que  o aluno é que deve  se interessar pela sua disciplina. É muito comum se ouvir a frase: “ se quiserem estudar, bom pra  eles, senão quiserem, danem-se”.  
               Mas, um bom  professor deve sempre  pensar e agir como cidadão forjando  futuros cidadãos,  como gente educando gente,  conscientes dos seus direitos e deveres. Pois lá fora, além dos muros  escolares,  ele  também  será  como tantos outros anônimos,   passivos diante dos mesmos riscos, podendo ser  vítima de uma sociedade  onde não se ajudar  ninguém a melhorar.  Certamente, todos  podemos  ser vítimas de uma  violência,  porque não  soubemos ou não decidimos combatê-la no momento  mais adequado  do desenvolvimento de uma pessoa.
               Por outro lado, a escola não pode  cair como um paraquedas na vida dos alunos,  como  se ela  fosse um alienígena.  É preciso lembrar  sempre  que o aluno já  entra na escola  com muitos valores impregnados pelos ensinamentos dos seus pais e  demais familiares. Para os filhos, os pais   são como heróis, sabem das coisas e sempre  querem o melhor para eles.   Os ensinamentos dos pais são como leis seguidas  pelas  crianças.  São nos pais que as crianças depositam sua confiança  e se espelham.
               Normalmente eles transmitem valores considerados  corretos, ainda que duvidosos.  Os pensamentos e as atitudes dos pais normalmente  são  copiados e levados para as relações com os  demais colegas  da escola.   Encontramos muitos  alunos que  se comportam de maneira  agressiva,  não respeitam ninguém,  falam sempre  palavras de baixo calão, demonstram falta de atenção na matéria, o que  normalmente são vícios e comportamentos  adquiridos no seio familiar. Isso é o que podemos chamar de reação em cadeia. Falta de educação leva à falta de educação. Falta de compromisso leva à falta de compromisso, e assim por diante. É uma imensa  bola de neve oriunda da negligência pública.  A escola deve antes  capacitar-se   para  então poder corrigir esses vícios. Afinal, a escola é vista como uma entidade obrigatória e essencial   na sociedade. Ela  é dever do Estado.  Por isso,  devemos  pensar sempre a escola como  uma estrutura  agregadora  e  preparadora de cidadãos  que irão conviver em grupos mais amplos que  a família.
               Diante da constatação dessa realidade tão desoladora que  estamos vivenciando,  os  responsáveis pela educação têm dois caminhos a trilhar: a) adotar a indiferença, culpando  sempre o governo por tudo o que acontece  de ruim e negativo na  sociedade por causa dos baixos salários; ou, b)  reagir e procurar propostas alternativas, mais eficientes  e eficazes  para lidar com essa realidade tão adversa,  na medida em que  se projeta  um  ambiente escolar para além dos limites dos seus muros e se consegue enxergar a escola como um instrumento fundamental na construção de uma sociedade melhor, mais justa  e mais igualitária.

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