O Brasil tem mesmo um dono - o povo
Lembro-me que na última campanha
eleitoral para Prefeito da cidade do Recife, um dos
candidatos usou em seu guia a seguinte frase: “O Brasil tem dono e esse
dono é o povo.” Linda essa frase. Não teve afirmativa mais correta dentre os guias eleitorais que assisti. Mas, qual era exatamente o sentido e o significado de
povo a que o candidato se referia?
O que é o povo? Na busca por uma resposta, encontrei muitas definições, mas
ficarei com aquela que mais me agradou:
s.m. Povo é o conjunto de homens que vivem em
sociedade. Conjunto de indivíduos que constituem uma nação. Conjunto de
indivíduos de uma região, cidade, vila ou aldeia. Conjunto de pessoas que
habitam o mesmo país, mas que estão
ligadas por sua origem, sua religião ou por qualquer outro laço. Conjunto dos
cidadãos de um país em relação aos
governantes. Conjunto de pessoas que pertencem à classe mais pobre, à classe
operária ou à classe dos não-proprietários; plebe. Lugarejo, aldeia, vila, pequena povoação; um povo. Público,
considerado em seu conjunto. Multidão de gente, as massas. ( 1)
Todos estamos assistindo a um movimento popular que a cada dia tem levado
multidões às ruas. São milhares
de pessoas que se reúnem para protestar
e demonstrar a sua indignação diante de
tudo o quem tem acontecido no país, e não é de hoje. Imagina-se que o movimento teve início por causa do aumento
das passagens de ônibus. Mas, será que tudo isso está acontecendo por causa de apenas vinte centavos de
aumento? Afinal, que diferença esse
aumento aparentemente tão insignificante
iria causar às pessoas?
A verdade, meus amigos, é que,
com o passar dos dias, os governos estão percebendo que não é apenas
por causa disso. Algo novo está
acontecendo neste país do comodismo, da covardia, de tanta manipulação por
parte da mídia, de tanta propaganda enganosa.
Nesse país de tanta corrupção e de tantas mentiras. Esta semana tivemos no país inteiro, manifestações
que deixam claro que, na realidade, o que está acontecendo não é simplesmente
apenas por causa do aumento das
passagens. Há algo muito mais substancial por trás de tudo isso. Talvez porque,
por tanto tempo, o povo tenha sido
tratado como mero expectador de uma
novela que ele participa sempre
como figurante. A história que tem
sido escrita e contada por uma minoria de
privilegiados, acostumados aos exercício
do poder parece que deverá sofrer
alterações. Uma minoria que estabelece em seus roteiros que o povo somente pode entrar em cena nos momentos oportunos e quando isso for conveniente. Como as
eleições, por exemplo, escolhendo e
comparecendo às urnas para votar em
uma daquelas pessoas previamente
indicadas, para, logo depois se
recolher à sua insignificância.
Talvez seja por isso que a imprensa
brasileira, entre tantas outras pessoas, acostumadas às mamatas do atraso e da
dormência do povo, esteja chamando a multidão que toma as ruas de manifestantes. Muitos até aparecem com discurso defendendo o
legitimo direito de manifestação popular. Durante a transmissão desses
eventos tão surpreendentes, alguns jornalistas, hipócritas, estão tratando aquelas pessoas como se fossem parte de um grupo de rebeldes insatisfeitos, o que não condiz com a realidade. Pois aquelas pessoas a quem muitos chamam de manifestantes estão
seguindo em passeatas pelas ruas,
ou ocupando as praças de diferentes cidades do país, porque estão chegaram aos seus limites. Chega de tanta hipocrisia, minha
gente. Chega de tanta corrupção e de pensar que o povo é besta.
Eu
quero dizer que estou muito feliz em ver o meu povo nas ruas. E quero pedir, por favor, quando se referirem a
essas pessoas, a esses verdadeiros heróis de nossa pátria, digam que o povo tomou as ruas e as praças
por causa da falta de respeito dos seus
governantes. Porque o povo é o legítimo
dono desse país. Manifestante não é um termo adequado para exprimir o que está acontecendo neste momento. Eles estão alí na qualidade de legítimos donos. Apesar
de reconhecer os excessos praticados por alguns e pela própria
Polícia, é importante
deixar claro que o povo está alí para exigir que os governos, que em tese foram eleitos para
governar e cuidar da coisa pública, tenham mais responsabilidade, respeitem e
cuidem melhor desse país.
Que os políticos cuidem desse patrimônio
que, na verdade, pertence ao povo brasileiro e se lembrem que eles foram eleitos não para se locupletarem
dos seus cargos, nem para simularem contratos
de licitação para favorecimentos ilícitos ou para dar empregos aos seus
familiares. Vocês foram eleitos para
cuidar do bem-comum e do interesse público. O povo está ali para dizer que já não aguenta mais ver com
passividade tanta barbaridade
acontecendo. Que já não aguenta mais ver o seu
patrimônio sendo dilapidado pela
corrupção. Porque o povo, o legítimo
dono de tudo, vivemos numa República ( res publica ), exige que se cuide melhor da educação, da
saúde, da moradia, da segurança, do respeito aos princípios da igualdade, da
moralidade, da impessoalidade e da dignidade da pessoa humana.
É bom
que os governos e as elites não subestimem
a capacidade de reação do povo e façam o deve ser feito. Pois ficar
indiferente ao que está acontecendo e julgar que tudo não passa de uma nuvem
passageira, talvez não seja uma boa ideia.
Finalmente, parece que os legítimos donos estão acordando para colocar ordem nessa casa tão vilipendiada,
que lamentavelmente se encontra no meio de tanta sujeira e imersa num verdadeiro mar de lama. Que Deus Seja Louvado.
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