Sobre Desonestidade


                     Parece que o mundo,  definitivamente,   passou a  pertencer  aos  mais espertos.  Falamos tanto em amor, porém, muitas  vezes,   esquecemos  a importância que  merece  a  honestidade no âmbito das relações sociais.  Talvez porque acreditemos que se tudo fosse feito com  amor,  a desonestidade não teria  vez nem voz  nesse mundo, pois onde  o amor comanda as ações, não  deve haver espaços  para   essa doença, esse verdadeiro mal que  corroí as  diversas formas de relacionamento humano.    
                     A  desonestidade  sempre foi  um   grande monstro, uma doença degenerativa,   presente em todos os níveis de relações  humanas.   Amar os  nossos  semelhantes  é o  nosso  grande mandamento, mas,  a exemplo do amor,  considero  a honestidade  um dos  valores  mais sublimes no quadro  representativo da  evolução humana.  Porque, bastava  as pessoas  serem  verdadeiramente honestas  para que a grande maioria dos  problemas existentes  no mundo fossem  definitivamente eliminados da nossa sociedade.  Porque haveria mais  confiança entre as pessoas e a certeza de que ninguém deixaria de cumprir com   as suas responsabilidades apenas para levar vantagem. E não estou só falando  apenas  de desonestidade  criminosa, prevista no Código Penal. Daquelas que  possibilitam a colocação do indivíduo na cadeia, não. Temos, entre outras,  a desonestidade moral, conjulgal, amistosa, comercial,  religiosa e  política.
                     É muito difícil  a realização de uma  pesquisa  de campo  que  possa mostrar  a quantidade de pessoas que poderíamos rigorosamente  considerar honestas neste mundo. Acho que poucos escapariam. Porque  muitos  concebem um conceito privado  do que seja realmente honestidade, o que  conduz à exclusão de algumas condutas e  atos que se praticam na intimidade de cada um.  Muitos   carregam seus próprios  conceitos sobre o que seja  honestidade de maneira  que não atinjam a consciência.  Aqueles  que,  por vezes,  cometem  algum ato   desonesto  costumam ficar com a consciência tranquila, exatamente porque os seus conceitos morais  sobre a  honestidade  foram  distorcidos desde o princípio de sua formação básica. Os atos de desonestidade praticados  por alguém assim  já não  lhes causam sequer vergonha  na cara.
                   De uma maneira geral, a cobrança popular  por mais  honestidade está  sempre direcionada aos políticos. Contudo, não devemos ser hipócritas ao ponto de não reconhecermos   que a desonestidade é uma doença crônica  generalizada, não só   no nosso país, mas no mundo inteiro.   Nos últimos tempos,  estamos chegando a níveis  preocupantes onde as censuras sociais e individuais  contra atos dessa natureza  vão sendo  negligenciados, de modo que  assistimos  a cada dia,  a inversão de valores, e as pessoas já não sabem definir o que seja  o certo para a sociedade.  Diariamente  temos notícias de pessoas envolvidas em escândalos por  conta da sua  desonestidade. São desvios de verbas públicas, são sonegações de impostos, caixa dois nas empresas privadas, superfaturamentos nas licitações. Até o estado  pratica a desonestidade.  Já virou rotina  a gente ver e ouvir  tantas mentiras   dos governantes  e simplesmente fingimos que acreditamos nelas, porque não há o que fazer.
                  Quando nos deparamos com uma pessoa honesta, como  aquele  humilde cidadão que outro dia  encontrou uma sacola cheia de dinheiro e  fez questão de  devolvê-la ao  seu legítimo dono,  ficamos perplexos e admirados com  tamanho gesto de honestidade, o  que deveria ser comum.  Mas,  o fato parece ser tão inusitado que logo  vira notícia nos jornais de horários  nobres da televisão  E sabemos que muitos o consideraram um tolo. Tenho a plena convicção de que muitos até fariam a mesma coisa, mas não tenho medo de afirmar que são exceções. Senão,  fatos como esses não seriam notícias  interessantes para  atrair o nosso  jornalismo.
              Em outro diapasão, temos empresas que lesam seus empregados e,   por conseguinte, o fisco. Temos empregados que querem ganhar fácil e sem trabalhar. Temos  vendedores que enganam seus  clientes para  aumentar a  comissão, empresas que dão golpes na internet, que vendem  e não entregam a mercadoria, agências que vendem carros maquiados  e causam  prejuízos aos compradores,  etc.  Atos que vêm  destruindo laços fundamentais  da confiança entre as pessoas.  Tudo  isso é muito preocupante. A coisa chegou  a tal  ponto que  temos  frases do tipo: “ladrão que rouba ladrão merece cem anos de perdão”. “ Todo dia sai um sabido e um besta de casa”.  “Chapéu de otário é marreta”.
              Infelizmente, muitos brasileiros se perguntam se vale a pena ser honesto.  Porque,   enquanto alguns  lutam e  trabalham  a vida inteira; enquanto tanta gente   se esforça para  ganhar o pão  com  o suor do seu rosto,  outros  os exploram e usufruem dos frutos do trabalho alheio.  Vários empresários, principalmente os do comércio,  enriquecem explorando  os seus trabalhadores. Isso acontece  sob as barbas de um estado iníquo e  ineficiente. Um estado que não cuida bem do seu povo.
               Mas, devemos lembrar que a desonestidade está muito relacionada com a formação do caráter e, por conseguinte, com a  consciência de cada um. É preciso que se eduque os seres humanos,  ainda em sua tenra idade,  para que  se desperte  cedo uma  consciência comum  de fazer aquilo que for  correto aos olhos de Deus e em benefício do bem-comum.  Esse é um papel fundamental para um estado que se preocupa com a construção de uma sociedade  melhor, mais justa, sem violência e sem corrupção. Uma  sociedade em que as pessoas possam viver  e conviver com mais dignidade e com menos fanatismo político.   Devo ressaltar,  também,  que me referi a uma sociedade justa,  e não mais ou menos ou falsamente  justa.  Uma sociedade é justa ou injusta. Não existe  o meio termo.  Porém, muita  gente  costuma  fazer uso dessa nomenclatura de maneira indevida, talvez  para aliviar    suas  consciências por alimentar essa realidade tão desoladora em nossa sociedade.        
     E, por falar em desonestidade, não poderia esquecer do famigerado  escândalo do mensalão. Eu gostaria de  perguntar ao povo que, como eu, apoiou e votou no Partido dos Trabalhadores,  qual espécie de político deverá ser  escolhida  nas próximas eleições:  aquele  político  honesto,  ficha limpa,  que nunca tenha sido acusado por nenhum crime. Um político sério e  trabalhador dedicado, mas que  não  tenha  obras grandiosas, faraônicas, que possam ser  vistas por todos.
  Ou será que o povo prefere  mesmo aquele  político  que, apesar de ser  acusados e condenado por desonestidade, por  corrupção,  por formação de quadrilha,  por  ter se beneficiado do exercício do  poder, para praticar crimes como  obras superfaturadas,  desvio de verbas públicas, etc.  Político que enriquece de maneira duvidosa,  que depois que sair do  seu cargo, aparece rico, dono de um  patrimônio  espantoso,  infinitamente maior do que  aquele que possuía. antes de exercer a função pública.  Político que,  apensar de sua  desonestidade  contumaz,  constrói várias obras com finalidade  eleitoreiras  e superfaturadas,  mostrando ao povo o que ele faz para ganhar seu voto?  E olha que já vi muita  gente  defendendo  políticos como esses. 
Será que o que importa mesmo é a sigla  do partido  a que o candidato  esteja vinculado?

Ou será que vale a máxima de que cada povo  tem o governo que merece?

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