Big Brothers?
Essa semana começou a
tortura de mais um Big Brother Brasil. Até meados do próximo mês de abril
teremos que suportar as imagens televisivas de uma casa repleta de candidatos à fama e ao dinheiro. Os termos
“tortura” e “suportar” são de minha
inteira responsabilidade, porque bem sei que há muita gente que gosta do programa. Ele só continua no ar exatamente porque tem
uma audiência enorme.
Será a décima terceira edição do programa, onde as novidades e as mudanças de um ano para outro são tão
irrelevantes que quase nem se percebe. Até porque, nesse caso,
não há muito o que se criar, a não ser modificar o aspecto meramente ilustrativo
e apelativo dos corpos desnudos dos
participantes, além das cenas calientes debaixo do edredom. Será mesmo esse o segredo do sucesso? Será que é isso que
prende a atenção do público? O que
prende a atenção dos telespectadores serão as imagens de rapazes saradões e mulheres turbinadas, pessoas aparentemente
saudáveis, envolvidos
em cenas com um escancarado apelo erótico e sensual?
Creio que enxergar o Big Brother por um
ângulo meramente sensual e
classificá-lo como um programa simplesmente apelativo que se mantém há vários
anos no ar apenas porque contém cenas dosadas pelo
erotismo seria subestimar a mente dos seus criadores. Na
verdade, o Big Brother, como todos os programas de televisão, tem o objetivo
muito mais publicitário, de divulgação
dos produtos dos seus patrocinadores. Com certeza, atrair um grande número de
pessoas dispostas a permanecer na frente
do monitor e, dessa forma, poder vender o
comercial dos seus produtos como
qualquer emissora de televisão. Se há audiência é porque o público gosta do que
vê. Se não dá audiência, acabam os patrocínios e o programa dificilmente se
mantém no ar. Principalmente por treze
anos.
Contudo, há um outro aspecto importante que
gostaria muito de ressaltar. O programa Big Brother Brasil tenta demonstrar, ainda que de maneira muito pobre, as
dificuldades encontradas pelos seres
humanos em conviver numa redoma, compartilhando um mesmo espaço.
Fica claro que, quando os interesses individuais superam os interesses de grupo, tudo tende a desmoronar.
Dá para perceber que são poucos os que se
unem para ajudar alguém a subir, mas são
muitos os que colaboram com a sua derrocada.
E, como consolo, resta o apego a uma célebre frase: ´” Essas são as regras do jogo.” Essa frase soa como um alívio na consciência
daqueles que contribuíram para a eliminação do outro participante, muitas vezes
sem um motivo convincente.
Os participantes geralmente são pessoas da
mesma classe social, onde os níveis de
formação se equivalem, com raras
exceções. Onde todos são conscientes das regras de conduta previamente
estabelecidas pelo comando geral do programa. Esse comando age como um
verdadeiro manipulador e define o roteiro
que possibilita a fomentação
das fofocas, dos atritos, das intrigas, das brigas e do separatismo entre os Brothers. Porque se fosse para mostrar um programa com pessoas enclausuradas , convivendo dentro de uma casa sem nenhum conflito de
interesses, o programa certamente seria
um fracasso total. Portanto, há de se
criar mecanismos que possam ensejar adversidades entre todos. As agressões físicas
e morais são proibidas, mas vez por
outra tolera-se como um tempero a mais em
função da audiência.
Todos sabem que somente haverá um ganhador dos
dois milhões de reais. E daí? O que a maioria espera mesmo é participar e conseguir ficar famoso. Através
da fama todos esperam conquistar um espaço, o tão sonhado lugar ao
sol. Se o prêmio vier junto, melhor ainda. De certa forma, a vida aqui fora é exatamente
assim: todos sonhamos com um lugar ao sol, assim como os Brothers. Todos entram com o desejo de
vencer. Porque não há como todos
ganharem o prêmio. Pena que a maioria
não consegue alcançar o êxito desejado. Porque, assim como acontece no programa Big Brother, podemos fazer um comparativo com a nossa
sociedade. A nossa sociedade também é organizada por um comando manipulador das
regras de convivência, que pregam a ilusão de que somos todos iguais e temos as mesmas oportunidades e as mesmas chances de ganhar e
de crescer. Mas, tudo não passa de um engodo.
É bem verdade que existem alguns exemplos de pessoas que
conseguiram superar as dificuldades, ultrapassar as barreiras e chegar lá, como se diz. Mas,
lamentavelmente, essas pessoas são exceções
surpreendentes. O fato é que posso ver no Big Brother uma pequena amostra de nossa realidade mundana, onde os
manipuladores sociais estabelecem regras fomentadoras de conflitos entre as
pessoas, de maneira que uns fiquem
contra os outros, na luta pelo melhor
lugar. O melhor lugar que eles mesmos definem
como tal. Esse melhor lugar se torna o grande desafio na vida de cada ser humano. Um objeto de desejo de todos os envolvidos nesse sistema de organização social, estabelecido há séculos, onde cada um procura
usar os meios disponíveis para alcançar os seus fins. Uma sociedade em
que os fins justificam os meios.
De uma certa maneira, sobre vários
aspectos, sem querer dar destaque
ao conforto da piscina, o programa Big Brother reflete uma realidade vivida fora
daquela clausura temporária e longe das
câmeras espalhadas pela famosa casa. Apesar da pobreza dos conflitos existentes
e mostrados ali, podemos perceber claramente que a rivalidade entre os participantes, causada
principalmente pelos conflitos de
interesse e pelo egoismo de cada
um, torna-se a
principal fonte que alimenta toda a trama.
Quanta ambição, quanta sacanagem, quanta covardia, quanta falsidade,
quanta inveja, quanta hipocrisia, quanta rivalidade e quanta luxuria.
Será que, de repente, o grande sucesso do Big Brother não está relacionado ao fato de que ele oferece uma grande oportunidade para que a
nossa sociedade possa ver-se na tela da televisão? Será que não somos, na realidade, todos participantes de um grande BBM, Big Brother Mundial, nessa grande casa chamada terra?
Comentários