Porque sexo é tão divertido (Stephen Kanitz )
"Sexo precisa ser divertido, mas o segredo do
divertimento são o comedimento, a surpresa
e o mistério, e não essa massificação e
banalização a que estão nos submetendo".
Por que os homens só pensam
"naquilo"? Por que nossas novelas só mostram "aquilo"? Por
que nossos anúncios e propagandas insinuam "aquilo", sem parar?
Porque fomos geneticamente programados a pensar "naquilo" com muita
freqüência. Podemos esquecer de fazer uma série de coisas na vida. Podemos nos
esquecer de tomar café ou de dizer bom-dia ao vizinho, mas de uma coisa jamais
podemos nos esquecer: de nos reproduzir e ter filhos.
Cada um de nós está vivo
porque somos o último elo de milhões de antepassados, nenhum dos quais se
esqueceu de reproduzir-se. Quando as mulheres reclamam que homens só pensam
"naquilo", elas estão sendo tremendamente injustas porque o instinto
do "não esquecimento" está em ambos os sexos, e com a mesma
intensidade. Afinal, nenhuma das mulheres que fazem parte da nossa genealogia
se esqueceu de reproduzir-se. Hoje se suspeita até que mais mulheres traiam o
marido do que vice-versa.
Coloque-se na posição de Deus
no dia da criação. Você tem de decidir que tipo de ser humano criar. Você precisará
definir a intensidade de qualidades como agilidade, inteligência, força,
solidariedade e que grau de instinto sexual atribuir ao homem e à mulher. Como
a energia é escassa, você não poderá dar grau 100 a cada qualidade humana.
Você daria 100 à inteligência,
60 à agilidade e 40 ao instinto sexual? Ou você daria 40 à inteligência, 60 à
agilidade e 100 a nosso interesse "naquilo"? Você preferiria criar um
ser humano inteligente, mas desligado, ou um ser humano mais bobão, mas com
pouco risco de ser levado à extinção? Foi por essa segunda opção que Ele parece
ter se decidido: criou um ser humano bobo, mas que vive pensando
"naquilo".
Pela lei da probabilidade,
entre nossos 4 milhões de ancestrais, mais de uma vez tivemos um antepassado
meio esquecido e desligado, que só teve um filho aos 36 anos, pouco antes de
ser comido pelos leões. O suficiente para ele deixar você como descendente.
Todos nós escapamos por um triz de não estar lendo este artigo. Se Deus tivesse
atribuído grau 40 em vez de 100, o que provavelmente muitos teólogos, papas e
moralistas teriam escolhido, a sua história familiar seria outra, ou seja,
inexistente.
Essa decisão divina explica
muita coisa deste mundo maluco: esta burrice coletiva que assola o mundo e o
Brasil e as besteiras que homens e mulheres cometem. Uma sábia decisão que hoje
provoca uma série de problemas, como o erotismo desenfreado, a preocupação
exagerada com o sexo, o desempenho e a traição, que trazem como conseqüência
esta sociedade de consumo e de ostentação. Mas que nos permitiu chegar até aqui
como somos: lerdos, burros, mas vivos.
A encrenca é que a maioria dos
nossos publicitários, autores de telenovela, artistas, cineastas, a turma do
"trair é normal" e do "tudo é permitido", usa e abusa desse
nosso instinto supercaprichado para os próprios interesses. Um jovem hoje em
dia terá sido exposto a 12.000 apelos sexuais antes de completar 14 anos, uma
aberração cultural sem precedentes na história da humanidade. Hoje não
precisamos ter doze filhos baseados na chance de que dois chegarão até a vida
adulta. Estão deliberadamente abusando desse nosso gene de preservação para
ganhar dinheiro para suas empresas e para si.
Se você acha divertido
assistir a novelas que só tratam "daquilo", se você vive na internet
procurando "aquilo", se você acha o máximo os livros que só tratam
"daquilo", saiba que você está sendo usado e correndo risco de
extinção. Estão afastando-o de sua verdadeira tarefa de procurar alguém ideal
para fazer "aquilo" com amor e diversão. Estão usando o instinto mais
caprichado que Deus nos deu para fazer justamente o contrário, deixar você
isolado na frente do computador ou da televisão.
Nossos professores, artistas e
cineastas, nossos líderes espirituais, nossa Igreja, nossos intelectuais estão
se esquecendo de que sexo precisa ser de fato divertido, mas o segredo do
divertimento são o comedimento, a surpresa e o mistério, e não essa
massificação e banalização a que estão nos submetendo.
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