Realidade X Fantasias

       É difícil explicar, mas sempre que dizemos ou fazemos alguma coisa que contraria as crenças, os costumes e os interesses das pessoas, normalmente somos considerados chatos, desagradáveis e comumente ignorantes. De maneira que até os nossos melhores amigos passam a nos olhar atravessado ou a nos evitar.  A conclusão a que chego é que há um grande repúdio implícito a qualquer novidade que possibilite mudar as convicções fundamentalistas e tradicionais da sociedade.  Isso talvez contribua para que a grande maioria das pessoas fujam da realidade para não ter que enfrentar os seus próprios fantasmas. 
     Talvez, pelo simples medo da realidade, a maioria prefira permanecer inerte, esperando por um milagre que possa transformar esse mundo num reino encantado, no lugar dos sonhos. Por isso mesmo, optamos por viver numa eterna ilha de fantasias e evitamos enfrentar  uma  cruel  e dura realidade: perdemos o sentido da verdadeira felicidade.Vivemos uma realidade que nos revela exatamente o que somos: escravos das nossas próprias ambições, das nossas covardias e do imenso valor que depositamos nas nossas necessidades materiais. Neste mundo de necessidades, tudo o que conceituamos como felicidade está intrinsecamente relacionado ao uso do dinheiro. Construímos uma sociedade absolutamente estruturada em pilares monetários e financeiros. Assim é que a realização da maioria dos nossos sonhos  dependem de bancos, de dólares, de reais, ações, debêntures, títulos de Crédito, bons salários, subsídios, etc.
        A verdade é que somos todos dependentes do dinheiro. Construímos uma forma de sociedade onde temos que batalhar todos os dias para ganhar mais e mais dinheiro, pois é  com ele que conseguimos suprir as nossas necessidades básicas, materiais, psicológicas e, na maioria das vezes, espirituais também. Materialmente falando é inegável que dependemos do dinheiro para adquirir os produtos de consumos que nos possibilitem sobreviver e conviver neste mundo. Por exemplo, comidas, roupas,uma casa para morar com a família, etc. Enfim, todas as coisas que precisamos e também gostamos de possuir por pura vaidade.
       Psicologicamente,  porque quando nos encontramos desempregado, sem uma fonte de renda, isto é, sem o dinheiro, normalmente costumamos  entrar em um estado de desequilíbrio emocional e mental. Pois o dinheiro também serve para nos dar dignidade no seio da nossa sociedade. Quanto mais dinheiro uma pessoa possui, mais ela se impõe diante dos outros, tem respeito e reconhecimento e são tratadas como vencedoras. Por isso mesmo, não são poucos os que cometem suicídio quando perdem seus bens e sua fonte de renda, por não suportarem viver com a falta dessas regalias que somente o dinheiro nos proporciona.
      Espiritualmente, porque de acordo com a doutrina adotada pela maioria das religiões, o dinheiro compra até a salvação. Por outro lado, podemos afirmar sem medo de errar que nenhuma religião antiga ou moderna sobreviveria sem o calor do dinheiro nas mãos. A teoria da prosperidade pregada por muitos evangélicos, por exemplo, prega que é fazendo ofertas cada vez mais vultosas para deus que recebemos as recompensas.Senhores, façam suas doações ao seu deus e ele certamente recompensará os seus esforços multiplicando suas doações, o que significa mais bens materiais, mais sucesso e mais qualidade de vida. Já do ponto de vista do catolicismo, quem não se lembra das famigeradas indulgências, onde se pagava para se  ter seus pecados perdoados?
       Assim é o que somos na realidade: um bando de loucos famintos, vorazes em busca de conquistas materiais que nos proporcionem conforto, reconhecimento e dignidade. Os nossos maiores conflitos normalmente acontecem motivados  na luta pelo dinheiro. Portanto, o Estado, as instituições em geral, como a família, por exemplo, as nossas igrejas,  as nossas empresas, os nossos meios de comunicação, as nossas  formas de lazer, os nossos costumes, as nossas aventuras, a nossa vida social, as coisas que nos trazem prazer e alegria, enfim, tudo o que fazemos e pensamos passam necessariamente pelo dinheiro. Porque foi dessa maneira que construímos a nossa sociedade desde épocas remotas. Manda mais quem pode mais. Pode mais quem tem mais dinheiro.
    Falamos em livre arbítrio, mas consideramos o destino uma missão inevitável, como se tudo fosse previamente estabelecido por um deus manipulador que comanda as nossas ações e as nossas vontades.Preferimos acreditar que seres invisíveis, com poderes sobrenaturais, estão sempre nos induzindo a fazer o que não gostaríamos de fazer, seguindo uma linha previamente traçada por eles. Assim, nos isentamos  de culpa uma vez que nossas decisões não seriam completamente tomadas por nós mesmos Embora eu considere tudo isso fruto do mais puro romantismo, que representa para nós uma fuga da nossa realidade e da verdade que não temos coragem de enfrentar, assumindo e consertando nossos erros enquanto sociedade humana causadora de tanta destruição e de tanta injustiça neste planeta.
Porque neste mundo, sofre mais quem possui menos dinheiro. Apesar de alguns hipócritas falarem  que o dinheiro não trás felicidade, sabemos que  nenhum deles é capaz de abrir mão dos milhões que ganham nem de suas mordomias. São falsos moralistas espirituais que pregam uma coisa e fazem outra. Façam o que eu digo e não o que eu faço.
      A conclusão a que chego é a de que, diante dessa cruel realidade, cada um cria ou procura um deus de fantasias, um deus que se encaixe perfeitamente nesse modelo de injustiça social, que leve conformação aos injustiçados, onde o destino de cada um seja pertencer à uma determinada casta. Por isso temos a casta dos senhores e a dos escravos, a casta dos exploradores e a dos explorados, a casta dos milionários e a dos miseráveis, a casta dos latifundiários e a dos sem terras. Uma casta que vende sonhos e fantasias ao povo, e uma casta de sonhadores que compram sonhos e vivem condenadas ao sofrimento, sentindo fome e sede de justiça. 
       Assim é que  o povo foi se  formando  e se conformando com sua realidade, aceitando seu destino como se tudo fosse obra da vontade divina, como se não fôssemos capazes de mudar, como se não fôssemos todos iguais diante da natureza original. 
    Infelizmente, parecemos mais um bando de selvagens vorazes e insanamente voltados para si mesmos. A cada dia vamos mergulhando cada vez mais nesse romantismo piegas, vivendo e alimentando ilusões, sempre na esperança de um milagre que nos resgate para um mundo mais justo e mais bonito. Um milagre que nos transforme em seres humanos melhores do que jamais fomos algum dia. Oxalá! Que esse milagre aconteça logo, pois já estou quase perdendo a minha fé.



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