Reflexão Sobre a Velhice

               Todos os anos a gente comemora  idade nova.  Faz parte da nossa  tradição receber os cumprimentos e os parabéns dos amigos,  no dia do nosso aniversário. Contudo, com o passar do tempo, a idade  parece se transformar  num grande desafio. Porque passamos a ser vistos  de maneira diferente pelas  outras pessoas. É comum ouvir  idosos falando, por exemplo,  no meu tempo isso, no meu tempo aquilo. É como se o tempo já não lhes  pertencesse mais.                               
              Confesso que só  comecei a me preocupar com a  idade  quando  o médico olhou para o resultado dos meus  exames  e disse:  - “Longe  do sal e do açúcar.  Doravante,  evite  as Guloseimas, charques, bacalhaus e bebidas alcoólicas, principalmente,  no  churrasco”.
            Até parece  que foi ontem   quando  pensava que era dono do mundo e  corria pelas ruas  livremente, sem medo do tempo e sem o peso das grandes preocupações . Como um legítimo  dono  da própria  liberdade, eu costumava jogar  bola com  meus  coleguinhas num campinho,  lá perto de casa.  Terminado a peleja, voltava para  casa  exausto. E quado chegava   desconfiado, completamente sujo de lama, mas com a alma lavada.  Sempre  ouvia minha avó dizer:
        - “Que danado é isso, menino?”-  Tá parecendo  um porco!”
        - “Coisa de  criança, dona  Severina.” Amenizava  dona Adelina,  uma inesquecível   vizinha.
            Hoje,  na cruel nitidez do espelho,  vejo refletida uma  imagem  envelhecida e diferente. As rugas   se espalharam  no rosto já coroado pela  brancura dos cabelos. Não resta a menor  dúvida:  a velhice se aproxima velozmente e com ela os percalços de uma fase cheia de limitações.          
             Na vida, duas coisas  são inevitáveis: a morte e a velhice.  Sabemos que todos envelhecem, mesmo assim os preconceitos são severos. Todos vamos envelhecer  e morrer com o tempo. Contudo,  preocupa-me menos a morte que a velhice. Porque sei que a velhice um dia me fará  agir como criança outra vez e as palavras   serão  balbucias, expressões de   sentimentos  e angústias incompreendidas.
            Preocupa-me mais a desumanidade e a falta de compaixão,  principalmente,  na  hora de dormir. Porque  na solidão dessa minha  nova infância,  não sei se terei uma mãe  dedicada e cheia de paciência, que me  cante uma  canção de ninar, até que eu   adormeça  sem  temer a  escuridão da noite.   “Boi, boi, boi,  boi da cara preta...”



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