A Sucinta História do Brasil


             Era uma vez,  um pais  repleto de matas virginais ocupadas por  muitos índios, milhares de índios.  Eles  ocupavam suas terras  desde épocas remotas, e viviam ali, selvagemente,  de maneira rústica e pacata.  Respeitavam a grande mãe natureza, pois  dela  tiravam  o seu sustento. Caçavam e  pescavam livremente. Até que um belo dia, aquela rotina milenar foi abalada com a surpreendente  chegada de  muitos forasteiros armados.  Com  armas poderosas,  que cuspiam fogo,  logo impuseram o  primeiro artigo da  lei  que iria regular  aquela relação dali por diante:  Art. 1° - “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.     Em questão de dias, os forasteiros  tomaram posse de tudo e se instalaram nas áreas litorâneas, mataram e  expulsaram  muitos índios, obrigando-os a fugirem  para o interior.  Diferentemente dos índios, os estrangeiros não sentiam amor pela terra e sim cobiça. 
              No início, todos pensaram que se tratava de uma ilha. Até que descobriram, mais tarde, que se tratava mesmo de um território continental, com muitas riquezas a serem exploradas.  
              Devido a sua imensidão, dividiram o território brasileiro em capitanias hereditárias entre vários apadrinhados do rei. Eles passaram  a agir como os legítimos donos das terras, com plenos poderes. Deveriam, apenas,  fazer com que a sua capitania prosperasse, para que o rei pudesse tirar algum proveito dessa prosperidade.   Os donatários podiam  explorar tudo o que quisesse, de modo que podiam  fazer  o que bem entendessem, não só com as terras,  mas também com as pessoas que ali vivessem.  Muitos  índios, que  já não eram mais donos de nada,  foram obrigados a viver como escravos dentro de sua própria casa. Mais tarde, outros escravos vieram de fora, os negros, que também não eram donos de nada.  Muitos  herdeiros dos donatários enriqueceram explorando a escravidão e a terra que receberam  graciosamente. Até que um dia veio  a abolição e os escravos se tornaram livres.                  Porém,  continuaram  não  sendo donos de nada.
              Assim, formaram-se os grandes  latifúndios, com grandes fazendeiros armados, de um lado e, do outro,  os pobres e pequenos  colonos cultivadores, que viviam da agricultura de subsistência. Mais tarde, esses  pequenos agricultores  fariam parte de uma grande legião de pessoas  que não possuiam terra nem nada: os chamados “sem-terras”.  Muitos  trabalharam nos grandes latífundios  em  troca apenas de comida e de um lugar para morar com  suas famílias. Até que um belo dia, os fazendeiros latifundiários  resolveram trocar  a força do trabalho humana  por  máquinas.  O povo, que já não possuia nada, agora  estava também  sem lar e sem emprego.
            Com a seca e a fome, veio a era do êxodo. A maioria dos trabalhadores  deixou o campo com suas famílias  em busca de trabalho nos grandes centros urbanos.  Mas,  as cidades também  já tinham  donos, e os retirantes  continuaram  sem teto e sem-terras.  Restaram-lhes, apenas,   os morros, a periferia e as margens dos rios.  Os  ricos capitalistas, interessados na mão- de- obra farta e barata,  toleraram a invasão  e deixaram o  povo ocupar as periferias,  os morros e as margens  dos rios. Então,  já depois de tanta exploração,  um grande abismo se formou entre  dois grupos: de um lado, os ricos exploradores, donos de tudo;  do outro, os pobres e os miseráveis explorados, que continuavam  sem nada, mas com fome e sede de justiça.  
              Cansados, diante de tanta covardia, várias pessoas, tomadas pelo senso de justiça, quando  chegaram ao poder,  tiveram a ideia de retirar um pouco dos ricos  para dividir entre os mais  pobres, que não  eram donos de nada. Mas, pouco tempo depois, foram considerados comunistas expulsos do poder.
             O poder político continuou nas mãos dos velhos poderosos e a máquina administrativa do Estado passou a ser utilizada como instrumento em benefício das elites. Os cargos públicos, por exemplo,  eram ocupados por parentes e amigos indicados pelos poderosos . E o povo, que  fazia parte de um aglomerado de pessoas marginalizadas, permaneciam sem nada.   Vários anos de injutiças  se passaram, contribuindo para o crescimento da miséria e do abismo social. O analfabetismo e a violência aumentavam cada vez mais.  Milhares de pessoas morreram de fome e muitos  passaram   a sobreviver  abaixo da linha da pobreza.  
           Dom Hélder Câmara, um inesquecível líder religioso em Pernambuco,  estarrecido com tantos abusos e absurdos,  naquela época, já chamava a atenção das autoridades  sobre o perigo daquela situação e destacava a diferença entre pobreza e miséria.  Ele dizia que,  “ na  pobreza,  as pessoas ainda  têm pelo menos  o que comer; na miséria, nem isso elas têm”.   Ele também declarou  que  “a fome dos outros condena a civilização dos que não têm fome”. Portanto, não foi por falta de aviso.

          Depois do chamado “milagre econômico”, implantado ao longo da famigerada ditadura militar,  o que restou foi um país endividado e com uma multidão de excluídos, analfabetos, pessoas desiludidas, sem moradia, sem saúde, sem emprego e sem dignidade. Jovens sem esperança no futuro.  Um sentimento de revolta parecia inevitável.  A violência, as drogas, a prostituição, a criminalidade, tudo isso forjado e potencializado pelo longo período de concentração da renda e das injustiças sociais impostas ao povo ao longo de vários  anos.

            Os ricos e poderosos,  percebendo  os erros cometidos,  devolveram um país completamente esfacelado, à beira do colapso. Agora, restava um povo cansado de  passar por tantos sofrimentos, tanta humilhação, tanta exploração.  Os excluídos passaram a gritar, a lutar por mais direitos. Mas, até hoje ainda tremem com medo e se humilham  diante da aparente democracia que se instalou no país.  

           E agora eu pergunto: a responsabilidade por toda essa desordem que está acontecendo atualmente no Brasil é dos explorados ou dos exploradores?
             Reduzir a menoridade, por exemplo,  vai  mesmo minimizar ou resolver os problemas da violência ou significa, na prática,  apenas  a transferência de vários jovens de um sistema prisional para outro?  Quem  os senhores  pensam que ainda enganam?
           Quero concluir com outra frase dita por Dom Hélder Câmara, o Dom da Paz, para que reflitam e  se faça  o que  realmente deve ser feito:

           “A violência precisa ser superada. Para isso, impõe-se a coragem de ir à fonte de todas as violências, pondo fim às injustiças sociais”.


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