Onde será o Inferno?

           
                    A fé é a ilusão que  nos alimenta e que nos traz um pouco de alento e esperança diante desse cenário caótico no qual vivemos. Portanto, pobre daquele que vive sem fé, seja ela de que natureza for. Mas, quando falo de fé neste momento, não estou me referido a essa ou aquela religião. Falo da fé em si mesma, livre de qualquer opressão, uma fé que nasce e vive nas entranhas da  alma de cada um dos seres. 
                  Eu não posso afirmar categoricamente que o inferno é aqui ou ali, mas posso afirmar que o inferno pode ser aqui ou ali. Porque, na realidade, o inferno se constitui no lugar onde seres de qualquer natureza vivem ou convivem,  numa visível interdependência, diante de uma estrutura orgânica, da forma de interação com a natureza, das relações consigo mesmo e com os outros seres vivos  de um determinado lugar.  
                   Creio que o inferno não se trata de um lugar predeterminado para onde  irão os condenados, para onde vão os ruins, os perversos e criminosos ou não tementes a Deus. O inferno não é exatamente o lugar dominado pelo fogo e para onde não irão os bons. O inferno é um lugar onde convivem não apenas pessoas ruins, maldosas de coração,os perversos descumpridores das leis de qualquer natureza e de qualquer credo,  que praticam atos danosos ao bem maior da criação, como também aqueles que se digam bons e cheios de virtudes, mas que  se omitem  diante de tudo isso, colaborando com a construção e manutenção de uma realidade infernal em torno de si.  Saibam todos que a indiferença da maioria também ajuda a construir os infernos dentro e fora de cada um de nós. Infelizmente, nós estamos vivendo  o inferno aqui mesmo diante da vida que nós construímos ao longo dos tempos, esse modelo de sociedade no qual concretizamos. De maneira que nenhuma forma de vida escapa ao controle efetivo do controlador maior que  é o Estado, através de uma  Grande  e secreta  Ordem Mundial.  
               Imagine o que poderia ter de pior  no inferno tal qual  se propagam por aí? Por exemplo, dizer que o inferno é um lugar com muito fogo, comandado por uma criatura do mal, perversa, que no desejo maior de destruir os planos do Criador feito especialmente para cada um de nós, optou em conduzir nossas almas inocentes para lá, a fim de castigá-las por toda a eternidade. Faz isso pelo simples prazer de causar-lhes toda espécie de dor e sofrimento. Um lugar de sofrimentos  e dores, como se não existissem dores maiores ou  piores e mais graves do que as que já vivemos nesse mundo, nesse planeta tão maravilhoso. 
            Eis que é chegada a hora de se buscar a verdade nua e crua. Uma verdade  que não pertence a  nenhum dos mortais, mas que infelizmente a grande maioria não aceita e se recusa a aceitar. Talvez  porque estejamos todos enfeitiçados pelas belas mentiras que nos foram  contadas, depositadas a força ou sutilmente postas em nossas mentes, desde épocas remotas.  A verdade é que o céu começa com a libertação plena de nossas consciências diante de um mundo injusto e cruel, a fim de que possamos perceber que não existe um lugar determinado, considerado céu ou inferno nesse universo que nos abriga e  nos obriga. O que existe é a graça de uma  Energia Maior que pode se transformar  no que quiser, inclusive, em bilhões de estrelas, liberando uma parte mínima de sua forma para que pequenas outras estrelas sobrevivam e forneçam energias diversificadas, ainda que  efêmeras, para a formação de um magnânimo conjunto de diferentes corpos universais, criando junto a consciência cósmica que contemplamos com os nossos sentidos.
                Nós somos ínfimas partículas nesse colossal monumento que se move entre si, dentro de uma plataforma negra, absolutamente escura, liberando mais e mais energias e criando  bilhões e bilhões de outros seres, numa desarmoniosa harmonia. Dentro do nosso pequeno universo de consciência, carregamos uma  espécie de energia que se alimenta de outras fontes de energias. Temos uma força limitada que se compartilha entre  todas as criaturas, isso certamente para que nenhuma delas se tornem absolutas ou se considerem maiores ou melhores, mais ou menos importantes que  as outras formas de vida. Não importa para o universo se  uma estrela  é de primeira ou de quinta grandeza- ela é uma estrela. Não importa se são corpos luminosos ou iluminados, todos são corpos universais e cada um tem sua função dentro de uma cadeia infinita de criação e recriação.
              Somos sim, apenas criaturas, dentro  desse  misterioso e incompreensível universo de seres multiformes. Mas, dentro de nossa pequena capacidade de compreender tamanha grandeza, não é difícil percebermos  qual a nossa missão aqui nesse planeta e nesse espaço. Somos originários de corpos iluminados e, portanto, nossas forças e energias são compartilhadas. De maneira que, pouco ou quase nada poderemos realizar sozinhos. Se quisermos realizar grandes feitos, temos que unir nossas forças. Basta verificar o quanto somos mais fortes quando nos unimos. Quando um carro cai no atoleiro, por exemplo, e não temos forças para  retirá-lo sozinho, notamos que precisamos de ajuda. Mas, com a força de dez homens em poucos minutos o carro estará fora do atoleiro. Portanto, temos uma força limitada que compartilhada com outros nos torna mais fortes e podemos realizar grandes feitos. 
                 O nosso grande desafio é exatamente suprir nossas necessidades fisiológicas como, por exemplo,  comer e beber,  de uma mesma fonte sem nos deixar cair na tentação de conquistar a fonte  para subjugar os demais seres, explorando suas necessidades vitais.  Mas, o homem apesar de perceber isso  optou em usar essa condição para formar exércitos e dominar as fontes de recursos vitais para a sobrevivência de todos. Tanto os exércitos  que se dizem do bem e do mal agem conforme esse mesmo princípio: restringir e dominar o povo a partir da união de forças. Com o tempo, percebendo que apenas os exércitos seriam insuficientes, usaram a inteligência e o conhecimento para subjugar outros exércitos, combatendo entre si. Assim, foram criadas armas artificiais cada vez mais sofisticadas, com o intuito de destruir os adversários e dominar o povo.  Esse é exatamente a receita que utilizamos para construir um inferno em torno de nós. Um lugar bem diferente  do que costumamos chamar de  céu,  o  lado oposto do inferno, que  idealizamos e onde há uma plena e abundante  fonte de felicidades apenas  para os escolhidos.
             Hoje vivemos e convivemos  a realidade de um mundo cruel e prestes a explodir, numa luta  constante entre exércitos e governos  que investem bilhões em pesquisas  para criar novas e  potentes armas de destruição, a fim subjugar os demais, numa eterna luta para descobrir quem é o mais forte e mais poderoso, deixando um rastros de  destruição e mortes por todo o planeta. Esses são os princípios básicos reais que adotamos  e, por conta disso, criamos a fome e a miséria entre os povos, criamos as ilusões e as mentiras, criamos a corrupção e a impunidade. Criamos o prazer efêmero de quem prega a esperança no céu e o medo do inferno. Muitos se recusam a morrer, preferindo permanecer neste mundo, lutando para manter suas vidas, diante da incerteza se irão para o céu ou para o inferno. 
                      Mas,  digo a todos  que o céu e o inferno  já foi instalado neste planeta há muito tempo por uma corte de malfeitores e hipócritas. A mesma corte que se instalou e  que desde os primórdios domina  esse mundo,  diante da incredulidade, da indiferença e da covardia de seus fiéis cúmplices, que contribuem com suas forças e energias individuais, ajudando a manter tal sistema diabólico, porque também se regozijam  nele e se locupletam de suas beneficies malévolas.
              E, para concluir, devo dizer que não importa no que você acredite, procure observar em sua volta e veja  tudo o que estamos construindo e fazendo com a natureza e com todos os seres. Veja  se não  estamos transformando a vida aqui nesse planeta um verdadeiro inferno. Um inferno  construído por  nosso livre arbítrio.

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