Colher o que Plantamos?
É muito comum a gente ouvir algumas pessoas dizendo com todas as letras por aí: a
vida é minha e faço com ela o que eu quiser. O primeiro equívoco dessas pessoas
é que a vida transcende a individualidade posta em cada um de nós, portanto ela não
pertence a ninguém. A vida é como as águas do oceano, ainda que se retire
uma gota, ela continua sendo do oceano. A gota será sempre parte do
oceano, ainda que se perca no ar. Portanto, a vida nos empresta a sua
consciência sem nos pertencer. Segundo, é uma grande ilusão acreditar que podemos controlar ou mesmo fazer das nossas vidas o que bem entendermos,
conforme a nossa vontade. Apesar de
reconhecer o livre arbítrio, devemos sempre lembrar que ele não é inconsequente. Sempre haverá consequências
oriundas de nossos atos, os quais também transcendem e transpõem as barreras da nossa própria consciência
e podem não ser muito agradáveis para nós e para as pessoas do nosso convívio . É importante
lembrar sempre que nós não estamos sozinhos neste mundo e que, se por algum
motivo, se por alguma razão estamos aqui, certamente não é para fazermos o que bem
entendermos das nossas vidas consubstanciado no princípio do livre arbítrio.
Apenas
para ilustrar um pouco o que disse até agora, há alguns anos atrás trabalhei ao
lado de uma colega que fumava bastante cigarros. Era um cigarro atrás do outro.
Seu vício incomodava muito, mas naquela época ainda não era proibido fumar
dentro das salas. Lembro que uma vez fiz uma paródia aproveitando os versos da
música de Tom Jobim e Vinícius de Morais: “Se todos fossem iguais a você”. Fiz
uma espécie de crítica construtiva. Evidente que o texto não se concentrava apenas no ato dela, mas fazia
menção a muitos outros atos semelhantes que traziam consequências não somente à saúde dela como também a de outras
pessoas. Mas, falando no caso específico do cigarro, eu perguntava se todos
fossem iguais a você, fumante viciado, se de repente cada um resolvesse fazer a mesma coisa e acendesse ao mesmo tempo seu cigarro nos
escritórios, nos ônibus, nas salas de aula, nos cinemas, etc, Como seria suportar a quantidade de fumaça? Como seria respirar no meio de tanta fumaça nesses lugares? Imagine os problemas
de saúde que isso poderia desencadear e quanto o Estado teria que gastar com tantos doentes. Ela certamente não
gostou da parte que lhe tocava, ficou magoada comigo e pouco nos falamos desde
então. Como todo mundo sabe, tempos depois
fumar em ambiente fechado passou a ser proibido, pois ficou comprovado
que cigarro é muito prejudicial à saúde. Faz tempo que não tenho notícias da
colega, mas gostaria muito de saber o que ela pensa hoje do que eu falei sobre
o cigarros na época.
O
exemplo acima é apenas um em milhares de outros casos que acontecem por esse
mundo a fora. Muitos desses, inclusive, vemos todos os dias no transito. Muitas
pessoas dirigem como se na rua só existisse ela. Cruzam sinal
vermelho, jogam lixo pela janela, fazem barbeiragem, ocupam o acostamento, usam
celular enquanto estão no volante, estacionam em locais proibidos, principalmente
em vagas reservadas a algumas pessoas especiais.
Fico
imaginando se todos burlassem as leis, se todos dirigissem embriagados, se todos
dirigissem em alta velocidade, enfim, se todo mundo fizesse o que bem
entendesse simplesmente porque a vida é de cada um e cada um faz aquilo que lhe
der na telha. Porque se fosse assim, teríamos que acabar com a solidariedade,
com o sentimento que nos torna uma família, um povo. Quando alguém caísse em
desgraça, quando ficasse doente, quem cuidaria dessa pessoa? E se acontecesse um acidente no trânsito, socorreria a sim mesma, sozinha? Tomaria seus remédios, iria a um hospital ou um pronto socorro sem a ajuda de ninguém?
E aqueles viciados em jogos de azar, que gastam seu dinheiro em
jogatinas como ficaria, como comeria? Iria disputar alimentos nos lixos, pois não teria a quem pedir,
pois a vida lhe pertence e as consequências de seus atos também.
Enfim, há tantos e tantos outros exemplos que comprovam que a nossa vida também diz respeito aos outros, principalmente aos que nos amam e estão diretamente ligados a nós. Basta pensar como seria o mundo, como seria viver se os atos egoísticos que praticamos, todos resolvessem praticar, se todos fizessem a mesma coisa apenas porque tem o direito de fazer o que bem entende com suas vidas. Como ficaria o mundo, então?
Não, a vida não é como cada um pensa ou como quer que ela seja. A vida é como ela deve ser, um direito compartilhado e respeitado por todos os seres vivos. Lembrando que sempre iremos colher exatamente o que plantamos, não por castigo divino, mas como resultado natural de nossas próprias escolhas e ações. Não culpe ninguém a não ser você mesmo.
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