Reflexões Sobre a Felicidade, o Amor e o Egoísmo
Um dia Mahatma Gandhi disse que não existe um caminho para a felicidade, pois a felicidade é o caminho. Certamente Gandhi enxergava a felicidade como a própria razão de viver. Porque todas as criaturas, inclusive os animais, nasceram destinados a serem felizes. Talvez seja por isso que criamos um conceito antagônico entre céu e inferno, para explicar uma dicotomia onde o céu representaria tudo de bom, o lugar onde estão presentes apenas os felizardos, ou seja, o lugar para onde irão aqueles que fizeram por merecer. Enquanto o inferno seria a eterna morada dos infelizes, para onde irão aqueles que não tiveram o merecimento à felicidade eterna. Obviamente que entre o céu e o inferno, é certo que optamos pelo céu como símbolo da felicidade suprema.
Para mim, a felicidade representa uma energia tão positiva e tão contagiante que pode se propagar entre as pessoas com quem se convive. Isso acontece a tal ponto, que aqueles que normalmente estão em estado de plena felicidade, dificilmente sentem inveja ou vivem desejando o mal das outras pessoas. Por isso, embarcar nessa energia pode ser o caminho definido por Gandhi.
É certo que não podemos confundir a felicidade com o amor, acreditando que ambos estão sempre do mesmo lado. A felicidade não se confunde com o amor. Porque o amor nem sempre representa apenas e tão somente felicidade. Enganam-se os que acreditam que a felicidade e o amor são sinônimos ou que são faces de uma mesma moeda. Porque a felicidade em nós está sempre condicionada a alguma coisa. No entanto o amor, o verdadeiro amor, este é um sentimento incondicional e independe até mesmo da nossa própria felicidade.
Quando nos apaixonamos por uma pessoa, por exemplo, normalmente confundimos a sensação de prazer e de bem estar que sentimos, com a própria sensação de felicidade. De maneira que a pessoa por quem nos apaixonamos passa a representar a razão da nossa felicidade. Isso independente do que o outro esteja sentindo. Por conta do nosso egoismo, desejamos o outro porque ele representa o objeto, o meio, o sentido e a razão de estarmos nos sentido felizes. Mas, ao contrário da felicidade, o amor não é egoísta.
Epicuro, filósofo grego que viveu nos séculos IV e III a.C., defendia que "a melhor maneira de alcançar a felicidade é através da satisfação dos desejos de uma forma equilibrada, que não perturbe a tranquilidade do indivíduo".
Infelizmente, a busca pela felicidade tem feito aumentar cada vez mais o nosso egoísmo nos últimos tempos. Na medida em que buscamos alcançá-la através da satisfação de nossos desejos, nos confrontamos diariamente numa disputa por valores materiais, por objetos, por realizações de sonhos meramente fisiologistas. Aí está a principal razão para tanta violência. Por conta disso, muitos matam e morrem. Muitos roubam, exploram uns aos outros, praticam a corrupção neste mundo.
Preocupados com a nossa própria felicidade, o egoismo se torna um monstro a nos engolir com o passar do tempo. Depois que passa o estado prazeroso da paixão, o problema começa quando um dos lados já não encontra a mesma sensação prazerosa na outra pessoa. O outro já não representa a mesma sensação de felicidade que antes. Neste momento, o único sentimento que salva a relação é o amor. Porque este não depende da felicidade para se manter vivo. Porque o amor é uma grandeza da alma que nos impulsiona a pensar no outro em vez de olhar apenas para si mesmo. O amor se ocupa muito mais em fazer o outro feliz.
E como disse Paulo em sua carta aos Coríntios:
" O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". (1 Coríntios 13:4-7 ) . Portanto, quem ama se preocupa e se ocupa com a felicidade do outro.
Segundo o Livro de Gênesis, o primeiro dos dez mandamentos diz que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Isso é o que está escrito. Porém, com todo o respeito, eu acredito que o mundo chegou a tal ponto que o egoismo virou uma doença degenerativa e altamente contagiosa. O culto ao individualismo tornou-se capaz de alimentar a violência em todos os sentidos, causada pela busca de felicidade nos bens materiais para satisfazer necessidades supérflua. Tudo parece ficar cada vez mais complicado que esse mandamento carece de uma interpretação mais atualizada. Devido as vicissitudes e as fraquezas humanas no mundo moderno, amar a Deus sobre todas as coisas sempre. Mas, talvez esteja na hora de amar o próximo de uma forma ainda mais altaneira, amar além do que expressa o próprio mandamento. Será que neste momento não estamos precisando olhar e amar o outro ainda mais do que a nós mesmos?
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