Qual a Origem do Ódio?
É quase uma unanimidade descrever-se o ódio como o principal antagonista do amor. Como se o amor fosse a expressão mais altaneira do sentimentalismo humano, no que o ódio seria concebido exatamente como o oposto, isto é, o sentimento mais vil e mais repugnante. Porém eu acredito que todo e qualquer sentimento que possamos expressar nasce dentro de cada de nós. Mas, é preciso antes deixar claro que não importa a religião da qual sejamos parte, não existem santos neste mundo. No fundo, no fundo, somos todos iguais e sabemos a diferença entre o amor e o ódio porque o sentimos.
São muitos os que ainda acreditam e alimentam a tese de que existem certos antagonismos entre esses dois sentimentos, principalmente por conta dos conflitos intrínsecos e extrínsecos que eles desencadeiam. Mas, apesar de reconhecer que ambos têm causas e efeitos muito diversos em seus fundamentos, devo dizer que é um grande erro histórico, antropológico, sociológico, entre outros de lógica cultural, de efeitos devastadores na psique humana, quando se atribui a origem do ódio a um espírito malévolo e o amor a um ser bondoso. Devo alertar, no entanto, que em princípio o amor e o ódio não têm nada a ver com o sobrenatural ou com espíritos malignos, como muitos são induzidos a acreditar. Como muitas religiões dizem por aí, que atos humanos praticados com violência é fruto da fraqueza, da falta de fé e de uma tentação do mal. Tirem isso da cabeça, pelo amor de Deus. Precisamos antes conhecer a natureza e a motivação histórica que deu origem a esses dois sentimentos, aparentemente polarizados, distantes e separados por um imenso abismo em relação aos diversos frutos produzidos por eles em nossa sociedade.
Como sou uma pessoa muito pragmática, não ficarei aqui discutindo o assunto com filigranas. Assim, serei o mais objetivo possível. Acredito que tanto o amor quanto o ódio estão relacionados a fenômenos e motivações culturais e a fenômenos químicos e genéticos, implícitos em cada um de nós. Muitas reações aparentemente perversas são absolutamente normais, considerando a luta pela sobrevivência da espécie humana, desde eras antigas. Somos, neste sentido, resultado do conjunto de ações e reações emocionais que se desenvolveram ao longo da evolução humana neste planeta.
Somos sim uma evolução de seres que viviam como macacos. Desenvolvemos uma capacidade de raciocinar mais aguçada que os outros e talvez por isso nos consideramos raças tão superiores. Deuses na verdade. Mas, temos uma origem evoluída dos bonobos, onde o ódio, a agressividade, todo o sentimento de aversão aos outros tem a ver com a falta de compensação ou de satisfação sexual. Como os bonobos, temos nas relações sexuais uma forma de compensação que alivia a nossa agressividade. A Teoria Freudiana precisa ser levada mais a sério e melhor estudada pela humanidade. O resultado de suas pesquisas devem ser debatidos com muito respeito e, de preferência, sem interferências religiosas. Isso se houver mesmo interesse em se conhecer a verdade sobre nós mesmos e sobre os sentimentos e reações agressivas que, com certeza, fazem parte da nossa natureza. Como bem disse Sócrates: "...conhece-te a ti mesmo".
As relações sexuais, por exemplo, têm tanto para os bonobos quanto para nós uma função de alivio contra a agressividade natural, geneticamente comprovada, pois se encontra em nosso dna como instrumento de defesa, na luta pela sobrevivência. É a agressividade uma forma de imposição pessoal, uma maneira de demarcar território e defendê-lo de outras criaturas invasoras. Hoje, o que normalmente resulta dessa agressividade são atos que caracterizamos como violência. Sobre esse ponto de vista, o ódio resultaria de uma reação química causada por uma agressividade exacerbada que se prolonga no tempo e não desaparece instantaneamente como deveria ser, enquanto alguma forma de vingança não alivie a tensão provocada pelo referido sentimento.
"Mas qual a grande diferença entre animais tão semelhantes? Bom, evidentemente nosso cérebro, graças provavelmente a algumas mutações em genes responsáveis pela organização neural, deu um pulo cognitivo que podemos hoje testemunhar e estudar. Mas em termos de relacionamento, não diferimos muito dos gorilas e dos agressivos chimpanzés. Somos proclives à violência, à territorialidade, ao rapto, ao estupro, à guerra, à submissão pela força, mesmo compartilhando estruturas cerebrais que nos permitem ter empatia. Criamos uma sociedade competitiva, estressante e machista, que costuma associar prazer com algo ruim e pecaminoso. Tudo o contrário da forma “bonoba” de viver a vida".¹
Portanto, a conclusão é que neste caso nos impomos inutilmente uma conduta moral que renega a nossa própria natureza. Por incrível que possa parecer, a falta deste instrumento de compensação é que nos torna pessoas cheia de conflitos e ódio. Porque são desses conflitos que surgem a amargura, a insatisfação e a infelicidade. Contudo, isso não é uma defesa da prática sexual sem responsabilidade, pois essa já seria outra história, que envolve, inclusive, a proliferação de doenças e do nascimento de crianças não desejadas.
Digo apenas que todos, absolutamente todos, necessitamos da prática sexual e não devemos considerá-lo um mal, imoral ou coisa desse tipo. Lembrando que são poucos os casais que praticam sexo com o objetivo exclusivo de engravidar a mulher. Na maioria das vezes, os filhos nascem apenas por consequência.
Digo apenas que todos, absolutamente todos, necessitamos da prática sexual e não devemos considerá-lo um mal, imoral ou coisa desse tipo. Lembrando que são poucos os casais que praticam sexo com o objetivo exclusivo de engravidar a mulher. Na maioria das vezes, os filhos nascem apenas por consequência.
Comentários