No out door da consciência
Obrigado, sr. Prefeito, pela inauguração de mais uma praça;
Obrigado, sr. Governador, pela inauguração daquele Hospital;
Obrigado, sr. Presidente da República, pela nossa Economia tão fortalecida;
Obrigado, aos Juizes, pelas sentenças imparciais;
Obrigado, aos Promotor, por suas denúncias;
Obrigado, aos médicos, por salvarem tantas vidas;
Obrigado, aos engenheiros, por tantos edifícios e pontes;
Obrigado, aos políticos, por suas leis;
Obrigado, aos banqueiros, por cuidar do nosso dinheirinho;
Obrigado, Pedro Álvares Cabral, por ter “descoberto” o Brasil;
Obrigado, Princesa Isabel, pela Lei Áurea.;
Obrigado, Dom Pedro I, pelo Grito da Independência;
Obrigado, aos Barões do café, pelas riquezas produzidas.
Obrigado, sr. Padre, por pregar o amor e condenar a pedofilia;
Obrigado, sr. Lutero, pela Reforma;
Obrigado, aos Generais, por manterem a disciplina e a ordem;
Obrigado, aos Jornalistas , pelas informações diárias.
Obrigado, obrigado, obrigado, muito obrigado. Todos vocês foram indispensáveis à história do nosso país.
Mas, cá com meus botões, acaba de me ocorrer uma coisa:
Como deixar de agradecer aos verdadeiros heróis brasileiros, como os negros, que foram violentamente arrancados de sua pátria e de suas casas? Que foram covardemente separados de suas famílias, e na base do chicote, viram-se forçados a trabalhar nas lavouras de café, sem receber absolutamente nada pelo trabalho, tanto e além dos seus limites, suportando anos e anos de escravidão? Como não agradecer a todos os negros que trabalharam à exaustão, enriquecendo os seus senhores. E em troca, receberam, apenas, humilhação e abandono?
Hoje, muitos negros ainda sofrem a injustiça e a dor do preconceito racial e são tratados com indiferença e despreso por várias pessoas, como se sua pele fosse lama.
Como poderia deixar de agradecer, ainda, aos trabalhadores das minas, que ajudaram a embarcar toneladas e mais toneladas de suor e sangue em forma de metais preciosos para a Europa?
Como deixar de agradecer aos operários, humildes trabalhadores, que até hoje vendem sua força de trabalho por um salário miserável e injusto, cujo valor mal dá para mantê-los vivos? Certamente porque os patrões sabem que lhes causaria maior prejuízo se seus operários morressem de fome ou, por alguma doença, não pudessem continuar produzindo para satisfazer a voracidade dos capitalistas.
Como poderia deixar de agradecer, também, aos cortadores de cana, homens e mulheres, simples, que muitas vezes morrem de exaustão, dentro dos canaviais, enquanto os senhores enriquecem cada vez mais e se projetam politicamente?
Como deixar de agradecer a todos os excluídos, miseráveis, catadores, que sobrevivem sem dignidade, com fome e sede de justiça, sem educação, sem saúde e sem uma moradia digna, mesmo assim, amam o seu país e acreditam que tudo isso um dia vai melhorar?
Como deixar de agradecer às donas de casa, que envelheceram cuidando do lar e da sua família, enquanto seus maridos furnicavam nos cabaréis da vida, sob o manto protetor da hipocrisia?
Como esquecer os pedreiros, que com suas mãos cheias de calosidades, ajudaram a construir cidades inteiras, apesar de muitos não terem moradia?
De repente, ocorreu-me que todas essas pessoas sim, realmente são dignas de todos os nossos agradecimentos e de todos os elogios. Eles merecem todo o nosso respeito. Pois, são os nossos verdadeiros heróis, por isso mesmo, merecedores de todo o nosso reconhecimento.
Em que lugar estarão as suas merecidas medalhas?
Edvaldo Cosmo.
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