PEC 241- Congelamento dos Gastos?
A
gente sabe que ninguém pode gastar mais do que arrecada. Se uma pessoa tem um
salário mensal de cinco mil reais, esa pessoa não pode querer viver como se
recebesse dez mil reais por mês. Certamente terá um deficit de cinco mil reais
mensalmente que se acumulará ao longo dos anos. Então, uma conclusão simples e
lógica deve ser a de que não se deve gastar mais do que se ganha, ou mais do
que se arrecada. A conclusão é que se deve cortar gastos desnecessários e
manter um rigoroso controle de cada
centavo que tiver que usar.Com os governos creio que seja do mesmo jeito. Mas,
no caso da já famigerada PEC 241, que estabelece um teto dos gastos
públicos, a coisa não é tão simples nem
tão lógica como se propaga por aí.
É evidente que um governo não pode gastas
mais do que arrecada, pois isso cria deficit, isso é um fato. Mas, só gastará
mais do que arrecada se criar despesas que ultrapassem o limite do que for arrecadado,
isso também é um fato relevante a se considerar. Então, o correto é manter
sempre um rígido controle de suas
contas, mantendo suas despesas dentro dos limites de sua receita. Isso parece óbvio. Então, por
que alguém em sã consciência poderia ser contra o estabelecimento do teto, uma
vez que ele limita, poe um termo, um limite com relação aos gastos na
administração pública que extrapolam os valores da arrecadação?
A
resposta não é tão simples quanto se imagina. Por trás desse simples e
elementar raciocínio tem muitas outras coisas envolvidas, muitos
interesses em jogo que antes precisam
ser esclarecidos. Há gastos evidentes com relação a contratos pontuais que precisam ser melhor controlados
pelos órga~so de fiscalização e que, portanto, precisam de mais autonomia e
poder para exercer suas funções em defesa do patrimônio público.
Por
exemplo, a gente sabe que a economia é dividida em duas partes: A macroeconomia é a parte da economia que se encarrega de estudar o
funcionamento econômico em geral, bem como as políticas econômicas que são
adotadas em larga escala, e a A microeconomia é a parte que se encarrega do comportamento de cada
ator econômico de forma individual, como podem ser as famílias, as empresas ou
os trabalhadores. O que se tenta impor limite é do ponto de vista
macroeconomia para satisfazer o investidor que está desconfiado e não acha
seguro investir seu dinheiro no Brasil. Desse ponto de vista, tudo bem. Contudo,
a microeconomia me parece que não está
diretamente amarrada por esse controle
macro. Porque uma opção seria aumentar a arrecadação para cobrir as despesas,
mas essa o povo já não suporta mais e há uma recusa geral. A outa opção seria reduzir as despesas para que caibam
dentro daquilo que se arrecada. Para essa segunda opção, há uma enorme
necessidade de se controlar cada centavo gasto pelos poderes da república. Até
porque a PEC 241 não modifica o modelo
secular de corrupção como os fatos ocorridos durante os últimos governos.
È
inegável a ineficiência dos órgãos de controle com relação às organizações
criminosas que se instalaram dentro dos poderes para desviar dinheiro público
nos contratos entre a administração pública e grandes empresas privadas,
principalmente quando esses contratos envolvem milhões e até bilhões de reais. Imagine você o que se gasta
numa obra inflada pelos gatunos da corrupção! Tantas e tantas obras por aí que
se tem conhecimento começam com um valor e termina se gastando muitas cinco,
dez vezes mais do que em princípio foram orçadas. É público e notório que grande parte desses recursos são desviados
e vão parar em mãos erradas.
Esse
é o ponto do meu questionamento. Será que não seria mais do que suficiente
estabelecer um teto de tolerância razoável com relação aos contratos com a Administração? Será que já não está mais do que na hora de
se estabelecer um teto para cada empreendimento, dando uma tolerância de
acréscimo nos moldes da iniciativa privada? Por que será que somente no serviço
público se desvia dinheiro descaradamente e ninguém fez nada, ninguém vê nada,
ninguém sabe de nada? Mas o rombo pode ser contabilizado e alguém assinou.Assim
como alguém aprovou o desperdício com a compra da refinaria de Pasadena, entre
tantas e tantas obras inacabadas que se encontram espalhadas pelo país, por
conta da irresponsabilidade de governantes desonestos e mal intencionados.
Por
conta de não confiar nesses argumentos
que usam para justificar a aprovação dessa PEC 241, sou absolutamente contra. A
não ser que haja uma emenda que trate especificamente de controle específico
dos contratos com a Administração, impondo regras e limites e maior
transparência nos contratos vultosos.
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